*Para que minha vida tenha êxito terei que reconhecer e aceitar a minha limitação*.
_Posso e devo aumentar meus limites, mas não a qualquer preço_.
*A falta de limite faz adoecer*.
_Podemos evitar tais doenças, quando olhamos para as nossas possibilidades de forma realista_.
*+314-051*
*muita paz*
Lembro de ter lido em algum lugar sobre a importância de ser tocado após o nascimento.
Segundo o texto, através do toque, o bebê aprende sobre quem é, uma vez que percebe os limites que o definem, consegue diferenciar-se do mundo. Seria algo muito importante no processo de formação da identidade.
Ou seja, o ser humano construiria sua identidade através da percepção dos limites, da identificação daquilo que não é ele.
Assim, interagindo com o ambiente através dos sentidos, aprendemos e desenvolvemos habilidades para agirmos sobre o mundo.
Foi dentro deste contexto que acolhi o pensamento proposto, que nos convida a pensar na relação de limites e limitações com aspectos de doença e de saúde.
Nosso desejo, essa insaciável incapacidade de nos contentarmos com o que temos, nos provoca sempre a tentarmos empurrar os limites para mais longe, criando maior fruição e reduzindo desconfortos.
Neste trajeto de ampliação, negamos a autoridade dos fatores limitantes, exigimos ser a centralidade do universo, queremos que tudo opere a favor de nós, de nosso desejo.
Penso que Freud conversou de forma instigante sobre estes limites e a nossa relação com o mundo quando escreveu, em 1917, "Uma dificuldade no caminho da psicanálise", onde apresenta a ideia das feridas narcísicas da humanidade; momento em que o ser humano foi destronado de sua autoimagem mais grandiosa e onipotente.
Podemos e devemos redefinir limites?
Todos os limites são transponíveis?
Qual é o preço pago por nós ao transcendermos os limites?
Não tenho certeza se podemos falar em saúde ou em adoecimento, estabelecendo uma relação direta com a transgressão dos limites. Na realidade, prefiro pensar em termos de mudanças de ambiente, na necessidade de adaptação ao novo contexto e na possibilidade de contenção das mudanças em curso.
O que é visto hoje como doença, desconforto ou anormalidade; poderá ser reinterpretado mais adiante como saúde, sabedoria e adaptabilidade!
A perda dos dentes caninos, a eliminação do apêndice e o enfraquecimento de alguns músculos da mandíbula poderiam indicar adoecimento e anormalidade em relação às gerações anteriores, embora hoje sejam fatos interpretados como adaptações necessárias para o ser humano. Deixamos de ter dietas predominantemente carnívoras e nos adaptamos à nova dieta. Estas mudanças, de forma indireta, possibilitaram a liberação do crescimento da caixa craniana, o surgimento e a ampliação do neocortex, área cerebral que nos diferencia intensamente dos animais vistos como irracionais. Sem tais "anormalidades", talvez não fôssemos capazes de articular o pensamento criativo que realizamos hoje.
Ultrapassar limites ou nos conformarmos a eles? Talvez não haja uma resposta e esta pergunta seja apenas um direcionador de nosso entendimento. Através dela percebermos a importância do senso de individualidade e a necessidade de reorganização dele em dados momentos.
Desta forma, penso que o êxito surge quando consigo manter coerência quanto aos limites e transgressões deles em relação à construção de progresso e de felicidade em contexto individual e coletivo.
A falta de limite pode nos levar ao aparente adoecimento, caracterizado pela dificuldade de estabelecer a individualidade e as suas relações com outras individualidades e com o mundo. Mas a presença de limites abundantes pode reduzir nossa capacidade de adaptação e determinar contextos de individualismo prejudiciais à manutenção do coletivo por várias gerações, o que também pode ser visto como adoecimento, embora hoje seja visto como saúde...
Facilmente resgatamos em nossa sociedade conceitos como empoderamento, propósito de vida, independência, autossuficiência e liberdade; frutos do fortalecimento da individualidade frente ao coletivo, conquista da definição clara de limites intransponíveis.
Entretanto, começamos a questionar o individualismo na sociedade. Começamos a mapear comportamentos nocivos ao coletivo que possuem em suas bases, o culto à individualidade e o enfraquecimento da ideia de coletivo.
Saúde ou doença? Processos de construção de saúde ou processos de adoecimento?
Acho que podemos transgredir este olhar dicotômico de saúde e doença para estimarmos tudo como valioso processo de adaptação. Processo que nos faz questionar o destino, as possibilidades, os valores que queremos manter e os valores que desejamos atingir.
Assim, embasados na reflexão sobre o que temos, quem somos e quem queremos ser; podemos buscar mais coerência individual e coletiva entre o que fazemos e o que desejamos. Talvez o real adoecimento surja quando não somos capazes de ser coerentes quanto a pensamentos e ações.
Lembro de ter lido em algum lugar sobre a importância de ser tocado após o nascimento.
Segundo o texto, através do toque, o bebê aprende sobre quem é, uma vez que percebe os limites que o definem, consegue diferenciar-se do mundo. Seria algo muito importante no processo de formação da identidade.
Ou seja, o ser humano construiria sua identidade através da percepção dos limites, da identificação daquilo que não é ele.
Assim, interagindo com o ambiente através dos sentidos, aprendemos e desenvolvemos habilidades para agirmos sobre o mundo.