068/2024 - Manifesto à humanidade

Inquietação
Por que precisamos de tantos dias para conscientizar sobre o que não é visto? Será que temos ideia do que estamos vendo realmente?
Image
Acordei Inspirado 068/2024 - Manifesto à humanidade
068/2024 - Manifesto à humanidade
dia do ano
68
Manifesto à humanidade
mensagem

As mulheres não precisam de um dia no ano para serem lembradas.
Não devemos e nem podemos é esquecê-las todos os dias.
+068-298
muita paz

reflexão

Fiquei pensando sobre o que faz com que esqueçamos as pessoas e cheguei em algumas perspectivas interessantes...

Talvez tenhamos nos habituado a pensar no ser humano e nas relações entre eles dentro de padrões utópicos nascidos da projeção de valores culturais de determinada época em que nossa forma de pensar a sociedade sofria influências intensas das dificuldades de deslocamento, dos agrupamentos humanos rurais com pequena densidade demográfica, dos elevados índices de mortalidade e da baixa longevidade dos sujeitos.

Nos habituamos à convivência intensa e prolongada em pequenos grupos sociais, o que nos levou a estabelecer como regra natural este tipo de relação.

Convivíamos mais, partilhávamos mais momentos e sentíamos menos pressão de uma dinâmica produtivista em que atingir o limite da capacidade de realização é uma regra básica que caminha junto ao estabelecimento de novos limites, sempre superiores aos que foram superados. 

Abro um parêntese para perguntar a Charles Darwin se interpretamos adequadamente seus pensamentos sobre a evolução das espécies. Parece que temos lutado intensamente para garantir que a espécie humana adapte-se e sobreviva a qualquer custo. Seria o medo uma das bases para o pensamento produtivista de nosso momento?

Zygmunt Bauman nos fala amplamente em sua obra sobre a fluidez das relações humanas e sobre um sentimento generalizado de medo que habita a alma humana de maneira especialmente potente na modernidade. 

Acredito que a maleabilidade, a fluidez e a difusão nas relações humanas nasceram como resposta à globalização, às facilidades de deslocamento, ao aumento da densidade demográfica, à queda dos índices de mortalidade, à ampliação da longevidade e à mudança de eixo da atenção humana, que passa a visar a produtividade e não a humanidade; entre outros fatores.

É claro que poderíamos olhar para tudo isso sob óticas econômicas para vermos o progresso da humanidade, mas prefiro pensar em bases sociológicas, antropológicas, religiosas, artísticas e filosóficas...

Talvez estejamos esquecendo as pessoas porque não convivemos mais com elas de maneira continuada, o que seria um impeditivo para a criação de laços relacionais potentes, como ocorria no passado.

Constrangidos pela necessidade de produzir e gerar progresso infinito, automatizamos processos produtivos, otimizamos fluxos de trabalho, reduzimos a incerteza humana e lutamos contra associações de classe em função de uma cultura de independência e individualismo que nos permitiria viver com mais liberdade.

Há medida que envelheço, fico mais convencido de que o sonho do homem produtivo é desbancar a máquina, produzir sem falhas e ser totalmente eficiente; mesmo que isto signifique deixar de viver a incerteza, a vulnerabilidade e a subjetividade em favor da previsibilidade e do controle.

Inspirados em Darwin ou em uma interpretação equivocada de suas proposições, nós desenvolvemos formas violentas e requintadas de eliminar os não produtivos e os menos produtivos.  Desconsideramos quem não compete com as máquinas enquanto fugimos dos aspectos humanos e sociais que poderiam atrapalhar nosso fluxo produtivo.

Permanece, entretanto, que certa nostalgia idealizada e romantizada do que se viveu em algum passado distante. Seria um foco de esperança? Uma chama de resistência de nossa humanidade?

É difícil responder a tais questionamentos, mas o fato é que seguimos cansados, desmotivados, tristes e desejosos de espaços de acolhimento humano em que a convivência se dê. 

Adoecidos pelo mal do progresso, ansiando por liberdade absoluta, começamos a criar robôs e tecnologias para garantir o individualismo e a independência, tecnologias para entregar acolhimento, escuta e companhia através da emulação do humano.

Penso que nos distanciamos da ideia de interdependência como característica humana, embora reconheçamos de alguma forma a necessidade de reconhecimento desta necessidade relacional.

Neste contexto, atos heroicos são estabelecidos, talvez para não esquecermos completamente nossa humanidade! Celebramos o dia do diferente, daquele que não representa o produtivismo, mas que não deveria deixar de ser visto. Mas será que precisamos lembrar?

Penso que não.

Nós não nos esquecemos daquilo que está presente em nossas vidas...

Fazer uma revisão dos modelos de humanidade do passado torna-se, a meu ver, uma urgência que confronta o produtivismo econômico que está tornando a humanidade fluida, maleável e difusa.

Mas será que desejamos confrontar esta força que historicamente nos trouxe até aqui? Talvez não desejemos realmente realizar mudanças, mas apenas manter lembretes do que fomos em algum momento.

Em favor da liberdade solitária e independente, adotamos um ritmo de difusão relacional e estabelecemos camadas artificiais de relacionamento para garantir que não sejamos perturbados e nem frustrados. 

Definimos conexões e não amizades ou coleguismos.

Nos encontramos todos os dias com milhares de perfis sociais e não temos tempo de olhar nos olhos de duas ou três pessoas.

Celebramos curtidas, salvamentos e compartilhamentos nas redes virtuais. Automatizamos respostas a comentários e definimos filtros restritivos para bloquear as falas que nos desagradam.

Inteligências artificiais simulam pessoas reais enquanto cunhamos o novo ideal estético inalcançável de ser humano.

Virtualizamos nosso existir e sacrificamos o existir presencial enquanto criamos filtros, barreiras e proteções para conter o contato com outros seres humanos que não sejam reflexos e projeções de nós mesmos.

Garantimos a conclusão de nossas listas de tarefas, cultuamos corpos saudáveis mediante alimentação perfeita e exercícios, nos relacionamos com projeções artificiais de pessoas que se idealizaram por personas digitais.

Desistimos dos momentos de ócio, de erro, de solitude, de imperfeição e de vulnerabilidade. Talvez evitemos a solitude para não encararmos o vazio natural e impulsionador de tudo o que é humano. 

Acho que não precisaremos lembrar de ninguém quando desistirmos de atingir um estado aparentemente patológico de liberdade solitária e independente. 

Celebrar a interdependência, reconhecer os seres humanos à nossa volta e nos permitirmos ser diferentes das máquinas precisas e perfeitas pode ser o caminho mais desafiador de resgate da humanidade definida no passado. Até lá, que possamos estabelecer 365 dias no ano para celebrar os aspectos da humanidade.

Celebremos a humanidade! Mulher, homem, transgênero, agênero, criança, adulto, idoso, imortal, mortal, homoafetivo, heteroafetivo, pan-afetivo, estrangeiro, migrante, emigrante, imigrante, nativo, negro, branco, indígena, oriental, ocidental, terrestre, extraterrestre, saudável, doente, capaz, incapaz, com síndrome, sem síndrome, rico, pobre, classe média, moral, imoral, sonhador, realista, idealista,…

Expressões que mantém viva em nós a lembrança da humanidade, característica distintiva do que é interdependente, solidário e imperfeito.
 

reflexão

Fiquei pensando sobre o que faz com que esqueçamos as pessoas e cheguei em algumas perspectivas interessantes...

Talvez tenhamos nos habituado a pensar no ser humano e nas relações entre eles dentro de padrões utópicos nascidos da projeção de valores culturais de determinada época em que nossa forma de pensar a sociedade sofria influências intensas das dificuldades de deslocamento, dos agrupamentos humanos rurais com pequena densidade demográfica, dos elevados índices de mortalidade e da baixa longevidade dos sujeitos.

Mais Reflexões

Como podemos transformar incertezas e desafios inesperados em oportunidades de crescimento e aprendizado pessoal?
Como nossas escolhas e experiências moldam a identidade que acreditamos ser verdadeiramente nossa?
Como podemos encontrar coragem e propósito em meio à certeza da nossa finitude?
Como podemos equilibrar o amor infinito que sentimos com as limitações de tempo e atenção nas nossas relações diárias?
Como a conexão entre autoconhecimento e perseverança pode influenciar nossa capacidade de superar desafios e alcançar o crescimento pessoal?
Como podemos transformar a devoção em um compromisso pessoal que favoreça nosso crescimento espiritual e nos ajude a encontrar paz interior?
O que dá significado à sua existência? Uma reflexão profunda sobre fé e espiritualidade pode revelar respostas surpreendentes...
Como podemos realmente entender e influenciar a complexa interação entre nossos pensamentos e emoções para alcançar o bem-estar emocional?
Como podemos reconhecer e assumir o protagonismo em nossas vidas em meio às rotinas que frequentemente nos relegam a papéis de coadjuvantes?
Até que ponto a busca incessante por superação e realização de desejos pode nos afastar de nossa própria humanidade e nos levar a consequências irreversíveis?
Como podemos expandir nossa compreensão do amor para promover relações mais saudáveis e integrativas em nossas vidas?
Como podemos transformar incertezas e desafios do presente em oportunidades de crescimento e gratidão para o futuro?