Se você deu um presente e a criatura beneficiada passou a sua dádiva para além do círculo pessoal, felicitando outra criatura, não lance reclamações e sim considere as bênçãos de alegria multiplicadas por sua sementeira de fraternidade e de amor.
+278-088
muita paz
Diante de uma realidade consciente que aponta para a complexidade e para a não-linearidade na vida, talvez seja necessário repesarmos o modelo de geração de significado usado para validarmos os presentes que recebemos. Mas faremos uma viagem intensa para pensarmos a respeito...
Apertem os cintos!
O poder multiplicador de estarmos trabalhando em rede, interconectados, influenciando e recebendo influências o tempo todo!
Lembrei muito do efeito borboleta, e, consequentemente da Teoria do Caos, que é uma teoria científica que afirma que pequenas alterações nas condições iniciais de um sistema podem causar comportamentos imprevisíveis e complexos.
A Teoria do Caos desafia nosso pensamento cartesiano e confronta o modo Newtoniano de pensarmos a realidade física que vivemos, mas está amplamente demonstrada em diversos contextos que puderam ser observados a partir do aumento de nossas capacidades computacionais de coleta e processamento de grandes volumes de dados.
A humanidade é convidada a repensar a forma de ser humano, distanciando-se das máquinas mecânicas previsíveis e aproximando-se das máquinas quânticas e dos sistemas orgânicos, complexos por natureza e caóticos em essência.
Começamos a falar em estados quânticos, micro-incrementos sequenciais, acumulação de energia, transbordamento energético, pontos de não-retorno, tomada de decisão em tempo real, dinamismo e imprevisibilidade...
Em pouco mais de um século identificamos a nossa realidade existencial complexa e revolucionamos nossas culturas!
Na última década do século retrasado o matemático e astrônomo francês Henri Poincaré enunciava a complexidade através de seus estudos da estabilidade do sistema solar. Considerando a influência do Sol e de Júpiter sobre pequenas massas, ele descreveu órbitas que apresentavam grandes variações de comportamento a partir de pequenas variações das condições iniciais.
“É impressionante a complexidade desta figura, que eu nem mesmo tento desenhar. Nada é mais adequado para nos dar uma ideia da complicação do problema dos três corpos e, em geral, de todos os problemas de Dinâmica...” - Poincaré
Após a Segunda Guerra Mundial, o exército americano apropriava-se da ideia de complexidade para olhar para um processo de ruptura cultural importante. Percebia-se o surgimento de uma cultura caracterizada pela volatilidade, pela incerteza, pela complexidade e pela ambiguidade, o Mundo VUCA, como ficou conhecido.
Na sequência dos acontecimentos, sem que houvesse terminado o período de um século, o antropólogo e futurologista Jamais Cascio, em 2018, durante um evento organizado pelo Institute For The Future (IFTF), nos fala de uma nova cultura nascente, o Mundo BANI.
Estabelecido sobre bases de fragilidade, ansiedade, não-linearidade e incompreensibilidade; o Mundo BANI nos desafia a repensarmos, novamente, nossas formas de ver e entender o mundo.
Fluxos de energia e informação atravessam nossos corpos e mentes continuamente estimulando nossas mentes, agora mais atentas e conectadas, gerando afetos e provocando-nos a viver de maneira complexa, não linear.
Mas nossas mentes precisam de tempo para forjar uma nova maneira de ser humano. Percebendo atravessamentos variados, estamos integrados a um complexo sistema relacional global onde a estabilidade estática torna-se cada vez mais difícil.
É neste ambiente novo e definido pelo equilíbrio dinâmico nas relações, que penso o presente dado, o presente recebido e o presente repassado; porque há fluidez em tudo, inclusive nas relações.
Nossos estados conscientes e inconscientes da mente percebem as mudanças no ambiente, mas talvez nem sempre consigam responder rapidamente com as adaptações necessárias...
A vida é fluida e dinâmica, mas a mente precisa de tempo para processar, adaptar-se e gerar padrões comportamentais de resposta.
Um gesto gera afeto e pode repercutir adiante nas relações de maneira fluida e imprevisível. Mas nós ainda queremos que os afetos gerados tenham materialidade e concretude. Talvez queiramos acumular afetos para gerar segurança e estabilidade.
Talvez um presente seja a prova concreta do afeto dirigido, uma âncora sobre a qual firmamos nossas relações e podemos cobrar reciprocidade.
Quando passamos um presente adiante, estaríamos negando uma relação ou reforçando relações em rede? A primeira opção parece referir-se ao paradigma cultural do século retrasado, enquanto a segunda opção, o reforço de relações em rede, aponta para o paradigma vigente que propõe virtualização e abstração dos afetos e das relações.
É difícil indicar o melhor mundo, mas talvez precisemos tentar acompanhar conscientemente as mudanças de cultura!
Perceber que as demandas de adaptação relacional ao consciente e ao inconsciente estão aumentando, mas também que continuam exigindo respostas humanas, pode ser um caminho de geração de saúde espiritual, mental, psíquica, física e social. Talvez seja também um caminho de estabelecimento de paz
O repasse de um presente pode não determinar a negação de uma relação, mas o desejo de fluidez relacional que potencializa nossas relações sociais e desobstrui nossas vidas materiais para podermos viver com mais liberdade pelos períodos existenciais cada vez mais longos e repletos de relacionamentos.
Imagine uma pessoa com 20 outras pessoas em seu ciclo relacional próximo. Em uma expectativa de vida de 40 anos, definida para o Brasil na década de 20 do século passado, representaria 800 coisas guardadas que não podem ser repassadas. A mesma pessoa, em 2023, teria uma expectativa de vida de 76,4 anos e o acúmulo de 1528 presentes, caso o círculo de relações tivesse se mantido em 20 pessoas, mas sabemos que nossos círculos relacionais se ampliaram brutalmente com os adventos da globalização e das redes sociais...
É claro que estes aspectos não encerram a discussão e poderíamos pensar inclusive na natureza dos presentes, cada vez mais abstratos, desprovidos de materialidade, mas esta relação ficaria muito mais longa e talvez perdesse o sentido.
Penso que o afeto marca nossas existências e promove a construção de modelos de ser no mundo. Talvez possamos escolher olhar para estes afetos de maneira positiva e mais integrativa para vivermos com mais saúde.
Diante de uma realidade consciente que aponta para a complexidade e para a não-linearidade na vida, talvez seja necessário repesarmos o modelo de geração de significado usado para validarmos os presentes que recebemos. Mas faremos uma viagem intensa para pensarmos a respeito...
Apertem os cintos!
O poder multiplicador de estarmos trabalhando em rede, interconectados, influenciando e recebendo influências o tempo todo!