• Entre Caramelos e Expectativas: O Verdadeiro Espírito do Natal

    356 II/2024 - Esperança e Alegria Diária
    356 - 2024 (21/01/2025)
    Mensagem

    🎼se a gente é capaz de espalhar alegria.🎼
    🎼se a gente é capaz de toda essa magia🎼
    🎼eu tenho a certeza que a gente podia🎼
    🎼fazer com que fosse natal todo dia🎼
    +356-010
    muita paz

    Reflexão

    Retornando de uma pausa estratégica e necessária, volto de onde parei, da mensagem 356 do ano passado, mas cheio de novas ideias. Entrarei em 2025 em breve, com algumas novidades. Por enquanto, sigamos com as reflexões dos dias que encerraram 2024.

    Fiquei pensando que o Natal Cristão celebra o nascimento de Jesus, visto como um marco histórico importante para o ocidente. Sua importância notabiliza-se até mesmo pela alteração na forma de contar o tempo, mas está profundamente enraizada na forma de sermos e de vermos o mundo. 

    Em seu artigo "A Contagem dos anos na Era Cristã", Rodnei Domingues nos conta em uma página do Centro de Pesquisa, desenvolvimento e educação continuada, gerenciamentodotempo.com.br:

    "Por volta dos anos 600 d.C. cogitou-se considerar a data do nascimento de Cristo como o ano zero."

    "O monge Dionísio, o Pequeno, que viveu no século VI, foi quem se preocupou e quem estabeleceu a data de nascimento do Redentor, fixada então em 25 de dezembro de 753 da fundação de Roma."

    "A Igreja acolheu a data de 25 de dezembro como o dia do nascimento de Jesus Cristo porque o dia de Natal se sobreporia, assim, às celebrações do solstício de inverno e à festa de Mitra, deus da luz, que os antigos festejavam justamente nesse dia. Assim, a Igreja cristianizou essas festividades pagãs, fornecendo-lhes simbolismos cristãos e uma nova linguagem cristã. "

    Uma decisão política de uma poderosa entidade religiosa nascente institucionalizada por Constantino e Licínio no ano 313 através do Édito de Milão, garantido um ponto de referência e diálogo para diversas nações.

    Construímos em torno da ideia do Natal ideais de esperança, de renovação, de paz e de concórdia. Construímos tradições de celebração destas ideias e, pouco a pouco, estabelecemos uma expectativa de que é possível celebrar o natal todo dia, conforme este trecho da música "Natal todo dia", de Mauricio Gaetani. 

    Me pergunto, entretanto, se realmente somos capazes de espalhar alegria. 

    Acho que a alegria é uma emoção que nasce quando certas expectativas internas são atingidas. Talvez não sejamos capazes de estabelecer alegria no coração dos outros e tudo o que podemos fazer seja criar situações que podem ser significadas pelo outro como alegria.

    A magia citada, talvez comece pela capacidade de reconhecermos a expectativa, o sonho e o desejo do outro. Concretiza-se quando decidimos ir ao encontro do outro oferecendo-lhe condições de atender estas expectativas.

    Mas talvez exista certo sacrifício pessoal na realização desta magia. Talvez seja necessário abdicar de nossas expectativas em favor do atendimento das expectativas do outro. Talvez seja necessário negociar o atendimento parcial destas expectativas. Uma pequena parábola talvez ilustre melhor o que digo.

    Certa vez o irmão mais velho de um casal de irmãos ganhou um saco de caramelos de sua tia. Os tios estavam voltando de uma longa viagem e trouxeram mimos para todos os sobrinhos. Marcos, o sobrinho mais velho, adorava caramelos. 

    Vanessa, a irmã mais nova de Marcos, amava qualquer doce, especialmente pirulitos. Por ter apenas 3 anos, foi a primeira a ser presenteada. Ela ganhou de sua tia um saco enorme de pirulitos de framboesa, seu sabor preferido. Ela ainda não tinha conseguido ajuda para abrir o saco de pirulitos quando viu o saco de caramelos de Marcos.

    Acostumada a ter todas as suas vontades atendidas pela família, Vanessa decidiu que queria os caramelos e também os pirulitos. Sua alegria só seria possível se Marcos sacrificasse seu desejo em favor dela.

    Marcos, por outro lado, não demonstrou desejo de fazer a felicidade da irmã. Ele estava na idade da juventude, lutando para se estabelecer no mundo e sentia-se carente da atenção dos pais e tios. Havia perdido grande parte da atenção dedicada a ele devido ao nascimento da irmã. Ele só seria feliz se não compartilhasse seu presente com a irmã! Dar o saco de caramelos para Vanessa seria impensável...

    O conflito se estabeleceu e os pais de Marcos tomaram a decisão de fazer a pequena Vanessa feliz. Eles não perceberam, entretanto, que o gesto de fazer a pequena feliz significava para Marcos a negação do amor parental. Naquele dia Marcos tornava-se órfão...

    Esta pequena tragédia talvez ilustre a importância de refletirmos mais profundamente sobre a impossibilidade de atendermos integralmente a todos os nossos desejos para vivermos alegria ininterrupta, mas também aponta para a impossibilidade de fazermos o outro alegre o tempo todo.

    Em um ambiente de escassez, quando os recursos são restritos, não é possível atender a todos os desejos do outro para que ele se sinta plenamente alegre todos os dias.

    Penso que o Natal talvez carregue em si uma mensagem maior e mais potente do que a alegria de nossas expectativas atendidas. Jesus, segundo a tradição católica, deu tudo de si, inclusive a própria vida, mas não foi capaz de tornar os outros alegres. É necessário que cada um de nós tome para si a responsabilidade de construir esperança e alegria através dos recursos que a vida nos entrega.

    Jesus exerceu o perdão integral nas relações que estabeleceu com o mundo. Ele praticou caridade baseada em amor incondicional. 

    Jesus teve sua vida atravessada pela expectativa e pela ganância dos outros que lhe causaram profundo sofrimento, mas seguiu aberto à convivência. Sem julgar ou condenar quem lhe causava dor, foi capaz de sustentar seus valores até o trágico final de sua existência.

    É difícil dizer se Jesus foi alegre todos os dias. Mas somos capazes de inferir que viveu com tranquilidade e paz ao não ofender suas crenças e valores. 

    Será que somos capazes de agir consciente e coerentemente em relação aos nossos valores mais essenciais? Talvez isto nos cause alegrias e felicidade...