Talvez eu não tenha compreendido bem o pensamento proposto. Mas, após a leitura, estou entendendo que evitar reagir, pensar antes de atuar e refletir antes de empreender seriam ações promotoras de paz. Entendi também que o pensamento proposto nos diz que investir nas reações, atuar sem pensar e empreender sem refletir seriam ações violentas.

Há ainda uma terceira camada no pensamento proposto: vida saudável e o comportamento saudável são acessados com ações de paz, ações não violentas, que estariam baseadas no controle absoluto do consciente sobre nossas vidas. Neste caso, o controle que se daria através da supressão das reações e do uso do pensamento e da reflexão, antecedendo as ações e empreendimentos.

Mas algo me deixou com muito desconforto corporal sobre a proposta. 

Eu confesso que senti a necessidade de diferenciar os conceitos de agir e reagir com mais precisão. 

Recentemente falei por aqui, em alguma reflexão do Acordei Inspirado, que agir a partir de algo que nos acontece é refletir e evitar a ação instantânea e irrefletida, ou seja, evitar a reação. Eu disse também que deveríamos agir ao invés de reagir, concordando, de certa forma, com a base da proposição para esta reflexão.

Fiquei pensando, entretanto, que reagir não precisa ser uma ação instantânea e nem irrefletida. Na realidade, quando me inspiro em algo me aconteceu, reflito, avalio e defino uma ação, não deixo de ser uma reação! 

Penso agora que talvez seja importante mantermos a relação de causa e efeito em nossos corações e mentes. Uma determinada ação só aconteceu porque algo a precedeu, levando-nos a reagir, mesmo de forma calma e refletida.

Certas ações só são realizadas porque foram precedidas de algum acontecimento...

Percebi que se não reagimos, estamos apáticos ao que nos acontece, não estamos interagindo com o mundo, com a vida e talvez nem mesmo conosco. Me parece que não reagir cria uma vida pobre e solitária. O desafio seria definir a melhor maneira de reagir. 

Mas, ainda dentro deste assunto, agir irrefletidamente, sem pensar a respeito da ação antes de realizá-la, pode ser algo importante. Imagine se antes de tirar a mão de uma superfície porque sentimos algum calor extremo, nós fôssemos avaliar a situação, pensar sobre a melhor ação e só então agir. Talvez não tenhamos tempo para atuar após pensar. Nossas mãos encostado em uma chapa quente de fogão agradeceriam muito a atuação sem pensamento...

Talvez exista lugar na vida para todas as formas de ação e de reação...

Nassin Taleb diz que, se nos orgulhamos da primeira versão de um produto que inventamos, nós perdemos o melhor momento de comercializá-lo. Em busca de algo perfeito, perdemos coisas boas.

Esta ideia me lembra muito de meu tio. Ele dizia que o ótimo negócio é inimigo do bom negócio. Meu pai diria que mais vale um pássaro na mão do que dois voando!

Hoje me sinto na obrigação de concordar com Taleb, titio e papai... 

Quantos momentos potentes, incríveis e importantes deixei de viver simplesmente porque refleti muito antes de agir ou de reagir? Como pessoa ansiosa, tímida e medrosa que sou, o conselho que preciso me dar constantemente é para ser mais audacioso, menos calculista e mais inconsequente... 

Menos reflexão e mais ação pode ser o caminho para muitos êxitos importantes na vida.

Nos acostumamos a definir a inteligência consciente como o auge da existência humana. Em nossa cultura, tudo o que é inconsciente parece ser parcial, incompleto, imaturo, pouco evoluído, arriscado e imperfeito. 

Nosso período histórico nos trouxe à necessidade de controle minucioso sobre tudo e todos como garantia da felicidade, do conforto e da prosperidade...

Buscamos previsibilidade a todo tempo. Talvez por isso estejamos tão ansiosos e com tantos males psíquicos. Talvez até bastante paranoicos...

O inconsciente também carrega inteligência e muita sabedoria! Por que ele não pode comandar o jogo em alguns momentos da vida?

Talvez a receita para uma vida em paz esteja no acolhimento da incerteza e do erro, na necessidade de dinamismo diante das mudanças que o mundo oferece e da importância de reações ponderadas que favoreçam bem-estar não apenas a mim, mas também ao outro, estabelecendo novos códigos de conduta ética em nossos acordos sociais.