Eu não tenho certeza se a prática proposta, a de perdoar, reside nos ensinamentos divinos ou na nossa percepção sobre o que é divino.

Inclusive, pessoalmente, confesso minha dificuldade em pensar sobre o divino como algo superior e único; tenho preferido fazer a leitura do pensamento proposto conectando o perdão ao sagrado, àquilo que tem valor superior no solo de meu coração e mente, algo que, de alguma forma, converge com corações e mentes da humanidade.

Mas, para além desta discussão semântica sobre sagrado e divino, o que seria a capacidade de perdoar?

Em meu coração, conceituo perdoar como a capacidade de perder-se, de acolher a existência do outro mesmo quando sentimentos, pensamentos e atitudes deste outro frustrem meus desejos, expectativas e ideações...

Talvez alguns de nós pensemos no exercício desta capacidade como a prática do bem; outros podem assumí-la como uma das práticas do bem e, por certo, ainda há aqueles que não considerem o perdão como uma prática válida na sociedade.

De qualquer forma, reconhecer o outro como um ser capaz e autorizado a exercer seu desejo na vida, mesmo quando este exercício nos force a sair de nosso ensimesmamento e a nos adaptarmos ao novo, que frequentemente é frustrante de nosso desejo, parece ser um caminho de abertura de diálogo promotor de paz, bem-estar e prosperidade na sociedade.