348/2022

"Não se deixe enganar pelas dificuldades"

Esta frase funcionou como um gatilho para ir além de algumas letras e perseguir alguns conceitos de forma curiosa. 

Lembrei do sabor marcante das berinjelas e de como eu resistia a elas na infância...

Será que temos esta capacidade de não nos deixarmos enganar? As berinjelas me sugerem que não.

Talvez não tenhamos a capacidade de avaliarmos por conta própria determinadas questões e assumamos uma narrativa que se concilia às nossas crenças, valores, expectativas, desejos e necessidades. 

Talvez sigamos com algumas questões porque confiamos no narrador.

Mas nos esquecemos que este narrador também tem suas necessidades, desejos, expectativas, valores e crenças que norteiam suas ações. Talvez tenhamos dificuldade em perceber que muitas vezes somos levados a servir em narrativas alheias pelos mais variados motivos e através de muitas estratégias diferentes; algumas delas baseadas em omissões, enganações e ignorância de nossa parte.

Lembrei de mamãe me convencendo a comer berinjela recheada dizendo que era só a casca da berinjela. Ela sabia que eu não gostava de berinjela, mas achava que era importante comer berinjelas por algum motivo... 

A verdade é que o recheio das berinjelas de forno era feito com berinjela, carne e temperos. Mas eu só descobri isso anos mais tarde quando tentei realizar a receita... 

Fico pensando em quantas vezes fui enganado em minha infância...

Eu retirava a casca da berinjela e comia alegremente aquele recheio pensando que fosse apenas carne e temperos!

Mamãe ficava feliz porque eu comia as berinjelas, embora as cascas sempre ficassem no prato.

Eu ficava feliz porque nunca comia as berinjelas, embora elas sempre estivessem misturadas à carne.

E assim seguíamos a vida...

Meu desconhecimento sobre a receita, minha impossibilidade em acompanhar a preparação do prato e a confiança total em minha mãe que ensinava que mentir é errado me colocavam em uma situação em que eu não teria escolha. Seria impossível arbitrar se posso ou se quero ser enganado neste caso das berinjelas.

Talvez o ponto chave nesta reflexão não seja se estamos sendo enganados ou não.

Talvez o ponto chave seja como estamos significando as dificuldades que a vida oferece e que proveito podemos tirar da situação que nos é imposta...

Hoje entendo que enfrentar dificuldades envolve grandes gastos energéticos, mentais e psíquicos; mas também promove o fortalecimento da individualidade de maneira ímpar.

Acredito que podemos tentar fugir das dificuldades pois as ideias de economia energética, de conforto e de preservação sugerem intuitivamente que enfrentar dificuldades envolve riscos, causa dores e prejuízos que talvez não valham a pena.

Mas e se considerarmos que sempre que saímos de nossa zona de acomodação temos oportunidades reais de desenvolver habilidades e capacidades que nos levarão a outros níveis de fruição da vida?

Talvez, diante da possibilidade de ganhos reais, diante da possibilidade de acessarmos mais conforto e bem-estar, enfrentemos dificuldades, riscos, dores e prejuízos em algumas áreas da vida para termos ganhos em outras...

Não sei se há uma necessidade real e concreta de enfrentamento de tribulações e nem sei se elas são passageiras. Mas acredito que ao aceitar estes enfrentamentos nós crescemos como individualidades de maneiras que o repouso e a segurança não nos ofereceriam.

"Não se deixe enganar pelas dificuldades"

Esta frase funcionou como um gatilho para ir além de algumas letras e perseguir alguns conceitos de forma curiosa. 

Lembrei do sabor marcante das berinjelas e de como eu resistia a elas na infância...

Será que temos esta capacidade de não nos deixarmos enganar? As berinjelas me sugerem que não.

Talvez não tenhamos a capacidade de avaliarmos por conta própria determinadas questões e assumamos uma narrativa que se concilia às nossas crenças, valores, expectativas, desejos e necessidades.