165/2023 - Egos e montanhas russas

Compreendo que a ação esperada daquele que tem consideração por nós, seja o estabelecimento de uma relação harmoniosa de cuidado através da qual nos sentimos valorizados, amparados e seguros. 

Mas, em uma primeira reflexão, me pergunto se o outro tem condições internas e maturidade suficiente para estabelecer relações conforme nossa expectativa de forma regular e estável. 

Penso que, embora exista apreço por nós, o outro também tem que lidar frequentemente com suas próprias problemáticas, com seus medos, ansiedades e traumas. Esperar que o outro seja capaz de oferecer uma relação do tipo "campo florido", em que não sejamos levados a experimentar altos e baixos, talvez signifique projetar no outro a perfeição e a maturidade que ainda não conseguimos estabelecer.

Aprofundando a ideia, há ainda outra perspectiva, que diz respeito a nós e não ao outro. Será que a montanha-russa vivida por nós na relação está sendo causada por nossa própria forma de tratar o outro na relação? Se somos instáveis, imaturos e inconstantes, talvez estejamos demandando uma estabilidade e respeito impossíveis para o outro, talvez nós é que estejamos sendo os criadores das montanhas russas.

Indo ainda mais além na questão das nossas capacidades, habilidades e competências, me pergunto se o outro teria ou poderia ter este poder de arbitrar como nós respondemos aos estímulos que recebemos do mundo.

Se sou emocionalmente amadurecido, penso que eu deveria ser capaz de não seguir de forma volúvel às ações do outro. Ninguém tem o poder de tirar a minha paz. O outro pode oferecer os desafios, mas quem perde a paz, quem sai do equilíbrio emocional somos nós.

Talvez estejamos vendo um grande tsunami onde existem, na realidade, pequenas marolas. Já vi muitas pessoas se descompensando emocionalmente a partir de falas e gestos simples e não intencionais do outro. Reações que eu classificaria como super-dimensionadas.

Mas, sejam quais forem os fatores envolvidos no vaivém emocional, é importante identificarmos quando o cenário está sendo prejudicial para nós. É uma questão de saúde mental, física e emocional aprendermos a negociar a altura das montanhas russas que subiremos, se é que nos propomos a subí-las. 

Algumas relações podem ser demasiadamente tóxicas para nós e, nestes casos, talvez devamos avaliar se faz sentido mantê-las como estão definidas. Negociar limites e afastamentos pode ser um grande ato de amor a nós mesmos.

E, neste sentido, se temos consideração por nós mesmos, devemos buscar manter nossos corações em belos e estáveis campos floridos caso não gostemos de montanhas russas.

Compreendo que a ação esperada daquele que tem consideração por nós, seja o estabelecimento de uma relação harmoniosa de cuidado através da qual nos sentimos valorizados, amparados e seguros. 

Mas, em uma primeira reflexão, me pergunto se o outro tem condições internas e maturidade suficiente para estabelecer relações conforme nossa expectativa de forma regular e estável.