Esteja pronto para ouvir, tardio para falar e mais tardio, ainda para irar-se
+233-132
muita paz
Pensar em ira me trouxe a um exercício meditativo que venho fazendo sobre um dos princípios do REIKI. "Só por hoje, não se zangue"
À medida que progrido em minha formação psicanalítica e me aprofundo em assuntos de espiritualidades, tenho pensado muito sobre a importância da raiva e, por que não, da ira.
Tememos os atos de ímpeto que podem colocar a perder esforços anteriores de construção e relações que prezamos de forma especial.
Tememos machucar pessoas;
Tememos nos ferirmos ainda mais...
Parece que queremos ser aceitos na sociedade, considerados por nossos valores e jamais vistos como agressores em potencial ou ameaças a serem mitigadas...
É bem verdade que talvez estes pontos não sejam pontos comuns para todos; na realidade nem me arrisco a quantificar quantas pessoas fogem da ira; mas observo estes temores e desejos expressos em mim e nas expressões de muitas pessoas à minha volta.
Talvez por isso esteja buscando avaliar melhor os aspectos da raiva. Podemos buscar a contenção de nossa indignação, impedindo arroubos de ira, mas me parece que sempre seguimos em sofrimento...
Tenho pensado se o problema é realmente a ira, ou se a explosão catártica e destrutiva que muitas vezes acontece a partir dela. Explosão que tisna as relações que mantemos com o mundo, fazendo com que sintamos profundamente a reverberação.
Indignação, revolta, reprimenda, julgamento, cancelamento e indiferença são apenas algumas destas reverberações que a sociedade pode estabelecer sobre nós e que tanto nos assustam...
Mas conheço pessoas iradas, revoltadas, zangadas e descontentes que explodem para dentro; silenciosamente construindo traumas, recalcando dores e somatizando doenças!
Seriam estas implosões expressões aceitáveis da raiva por não trazerem danos à sociedade? Penso que não.
Por isso gostei tanto da recomendação proposta.
Talvez seja impossível conter estes fluxos energéticos da alma que reivindicam o atendimento de necessidades negligenciadas pela sociedade e por nós mesmos.
Negar a raiva seria negar nossas necessidades e, consequentemente, a nossa própria existência!
Retardar a explosão talvez nos dê tempo para ouvirmos a nós mesmos com atenção e dirigirmos as energias de forma produtiva para a geração de nosso bem-estar.
Talvez a necessidade que vivenciamos seja justa, eticamente compatível com nossas crenças. Neste caso, seria mais precioso investirmos energias para atendermos à nossa carência da melhor forma possível. Não somos capazes de nos suprirmos sozinhos, somos sujeitos gregários e como tais deveríamos buscar o atendimento das necessidades individuais e coletivas.
Ao invés de destruir a nós mesmos e ao entorno com sentimentos, palavras e explosões de ira, talvez possamos construir soluções colaborativas, o que fortaleceria nossos laços sociais através da solidariedade e da fraternidade.
Reconhecer que o outro também é portador de necessidades que precisam ser atendidas, pode ser o início de uma bela e promissora jornada conjunta.
Neste trabalho coletivo, talvez sejamos capazes de perceber que não é possível usufruir soberanamente de todos os recursos para atender às nossas necessidades no curto tempo.
Acredito que precisamos hierarquizar necessidades e estabelecer níveis parciais de atendimento a elas. Considerando-nos todos iguais quanto ao direito de atendimento de certas necessidades, poderíamos rumar juntos para os próximos níveis de carências à medida que as carências coletivas e individuais básicas tiverem sido atendidas.
Este exercício individual e coletivo de hierarquização e classificação de atendimento de necessidades em níveis de atendimento nos ajudaria a construir e a fortalecer padrões éticos importantes que nos levariam a melhores níveis de humanidade.
Este trabalho nos levaria ao segundo aspecto sobre necessidades não atendidas.
Se, por um lado, precisamos identificar necessidades e estabelecer caminhos de atendimento delas, por outro lado, talvez percebamos que há necessidades que não são necessariamente necessidades e que, portanto, não precisariam ser atendidas para estabelecermos felicidade em nossas vidas.
Quando uma necessidade deixa de ser necessidade, nos libertamos da carência e, consequentemente, do sentimento de raiva pela escassez vivida naquele campo...
Escutar a necessidade do outro e as nossas próprias, avaliar as necessidades, hierarquizá-las, dialogar, negociar e definir planos de atendimento de necessidades exige tempo.
É preciso ganharmos tempo; nós o fazemos ao retar as respostas e as explosões de ira ao máximo, enquanto mantemos o compromisso de usar esta energia resolutiva de carências acumulada da forma mais humana possível.
Explosões de ira retardam o atendimento de nossas necessidades e amplificam outras carências nossas e do coletivo em que estamos inseridos.
Acredito que o trabalho coletivo, fraterno e solidário facilita a construção de resoluções inteligentes e partilhadas que exigem menos esforço individual.
Como nos percebemos como individualidades no tempo, talvez sejamos capazes de agir com sabedoria otimizando este tempo de realização que temos, embora precisemos investir energias na contenção de explosões, no autoconhecimento e no diálogo com a sociedade em que nos encontramos.
Mas é sempre importante lembrar que, embora a tensão em nossas vidas seja argumento mobilizador da vontade, carências em excesso fazem com que nos sintamos encurralados e, portanto, pressionados a reagirmos para sobreviver.
É importante dialogarmos sempre, não apenas nos momentos de crise intensa e, neste caso, a palavra é importante, embora precise ser retardada por um pouco enquanto nos apropriamos do conhecimento sobre as carências envolvidas.
Pensar em ira me trouxe a um exercício meditativo que venho fazendo sobre um dos princípios do REIKI. "Só por hoje, não se zangue"
À medida que progrido em minha formação psicanalítica e me aprofundo em assuntos de espiritualidades, tenho pensado muito sobre a importância da raiva e, por que não, da ira.
Tememos os atos de ímpeto que podem colocar a perder esforços anteriores de construção e relações que prezamos de forma especial.
Tememos machucar pessoas;
Tememos nos ferirmos ainda mais...