Quando você diz que “não tem tempo” para algo, na verdade você está dizendo que não escolhe aquilo como prioridade. Simples assim.
Falta de tempo já virou desculpa para quase tudo:
Desinteresse, desimportância , descaso…
+250-115
muita paz
Tenho pensado muito sobre a "falta de tempo"/"prioridade"/"valores individuais e coletivos", acho que poderei contribuir com alguns outros fatores além dos mapeados.
Penso que seja muito importante olharmos para nossas "faltas de tempo" com carinho e muito autorrespeito; sem desconsiderar o outro das equações relacionais, mas buscando compreender a importância do tempo para nós mesmos. Talvez esta seja uma forma de autoconhecimento.
Vejo a "falta de tempo" usada como uma máscara social, uma desculpa para nos isentarmos de algum compromisso sem maiores danos relacionais. Mais uma máscara social entre tantas que escolhemos como ferramenta relacional. Por isso acho interessante pensar sobre ela.
Se a vida é de relações, se todo o crescimento e amadurecimento se dá através das interfaces que estabelecemos com o outro, e se precisamos amar o outro e também a nós mesmos, refletir sobre nossas estratégias relacionais torna-se um hábito saudável e talvez urgente.
O primeiro ponto que penso sobre as máscaras é que elas surgem como estratégia para não precisarmos admitir algo ou sermos francos sobre algum aspecto da vida.
Muitas vezes estamos fugindo de nós mesmos, de nossos traumas e dores. Seguimos armados e na defensiva. Nestes contextos pode ser doloroso admitir, mesmo que apenas para nós mesmos, os motivos reais de nossa necessidade de não tomarmos parte de alguma agenda proposta. Talvez nem saibamos claramente o motivo de estarmos na defensiva, o que dificultaria ainda mais o processo de controle sobre si...
Avaliando minhas "faltas de tempo" e comparando com as "faltas de tempo" de outras pessoas, percebo que a falta de tempo também surge como estratégia de fuga da relação ou do grupo social. Neste caso, tenho buscado me questionar sobre a resistência de revelar para o outro o motivo real que me leva a não estar presente em um evento.
Podemos estar com medo do julgamento que o outro fará de nós? Penso que o constrangimento social, as polarizações e os cancelamentos agem vigorosamente neste contexto. Me parece que a falta de tempo surge como uma justificativa social plausível para não satisfazermos a vontade do outro através da oferta de nossa presença em determinado evento. Eu me perguntaria, neste caso, quais seriam os julgamentos que estou tentando evitar? De que tenho medo? Por que oferto tanta autoridade para o outro definir minha agenda?
Mas também me perguntaria: Por que é tão importante para o outro que eu esteja presente em determinado evento?
Eu percebo que, frequentemente, contamos como plateia, viramos objetos para um determinado fim. Parece que há uma contabilidade que dá autoridade social quando há muitas pessoas em um evento ou quando determinadas pessoas estão em um evento. É preciso considerar isto também!
A partir do hábito de objetificação da pessoa, sou obrigado a pensar que, efetivamente, nossa presença ratifica a importância de determinados eventos. Mas será que concordo com a proposta ou com o posicionamento da pessoa que organiza o evento? Nossa presença é a assinatura de nossa concordância!
Neste caso seria interessante buscarmos perceber porque não podemos simplesmente dizer "Eu não concordo com o motivo do evento ou com a plataforma defendida".
Parece que não nos comprometemos com conflitos e divisões polarizadas quando simplesmente não temos tempo. Posso dizer que não tenho tempo para ir ao evento A e nem ao evento B, ambos conflitantes e polêmicos. Assim, não ratifico as posições e nem me comprometo com o confronto aos pontos de vista. A famosa posição "em cima do muro"...
Mas, inevitavelmente, minha ausência afetará a mim mesmo e ao outro, assim como a minha presença. Pode ser muito importante termos claramente definidos os nossos valores e também as bandeiras por que lutamos. Eu posso ser favorável a determinada causa, mas preferir não me posicionar quanto a ela; neste caso a falta de tempo torna-se uma boa saída.
Talvez nossa presença conflite ideologicamente com algum valor pessoal importante!
Será que o custo a ser pago é muito alto? Qual será o impacto de nossa presença sobre nossos projetos em curso? Temos clareza do que queremos e do porquê queremos?
Outro aspecto interessante a pensar é que não tenho controle sobre a reação e nem sobre a interpretação do outro. Posso ser absolutamente sincero, respeitoso e atuante e, mesmo assim, ser interpretado equivocadamente, a partir das lentes que o outro usa e não das minhas lentes.
Parece que vivemos tempos desafiadores neste sentido interpretativo. Nossas individualidades possuem grande valor para nós e o nosso ego determina que o mundo gire a nosso favor. Sempre tentamos usar nossa subjetividade para interpretarmos a realidade a nosso favor, gerando múltiplas, e por vezes conflitantes, realidades.
Outros aspectos que pensei sobre o uso da máscara "falta de tempo" são a "falta de respeito" e a "falta de tolerância do outro" em relação a nós. Parece que estamos sempre obrigados a prestar satisfação de nossas escolhas, do uso de nosso tempo e energia. Mas também tenho a impressão de que somos questionados, julgados e cobrados pela satisfação que prestamos. Por que o meu "não estou disponível nesta data" não pode ser suficiente? Por que precisamos dar uma justificativa que parece abrir caminho para que o outro negocie conosco a nossa presença?
Neste contexto eu trago como exemplo a inconveniência dos vendedores, que geram constrangimento e insistências até conseguirem a venda, serem maltratados ou serem ignorados pelo possível comprador. Neste caso a clássica falta de tempo pode poupar muitas perturbações.
Um bom exemplo é minha própria vivência. Frequentemente sou abordado na rua por vendedores de causas sociais que desejam apresentar um projeto e vender a possibilidade de uma colaboração financeira. Aprendi a dizer que tenho pressa para ser liberado logo. Muitas vezes não tenho interesse ou discordo da causa social e, ao falar com franqueza e respeito, parece que engajo em um confronto em que o objetivo é dissuadir-me de meus pontos de vista. Acho muito inconveniente e cansativo...
Todos nós deveríamos poder declarar nosso desinteresse em uma causa ou evento sem o risco de julgamento social. Não seria um discurso violento e impositivo a apresentação de algo e a exigência quanto à nossa participação?
Mas, em tempos de polarização, parece que as únicas posições possíveis são "a favor" ou "sem tempo"...
Temos escalas de valores e prioridades. Talvez não seja o fim do mundo declararmos que algo não é tão importante para nós. Será que tudo precisa mobilizar nossa atenção, tempo e energia?
Talvez por isso vivamos em clima de muita ansiedade e dispersão; parece que a falta de foco e a descontinuidade vêm sendo prioridade na sociedade pós-moderna. Parece haver uma proposta de extinção de escalas de valores e importâncias alheios...
Penso complementarmente que precisamos agir conforme nossa escala de interesses e importâncias, mas com aceitação, respeito e tolerância. O fato de algo não ser importante para mim não significa que não deva, ou que não possa, sê-lo para outras pessoas. Vejo muitas críticas e desqualificações sobre determinadas agendas por parte daqueles que não estão disponíveis para participar. Como se estivéssemos objetificando aquela agenda e usando-a para somar pontos que nos coloquem em determinada agenda de interesse. Talvez este também seja um assunto importante a considerar. Por que preciso desqualificar o outro para crescer na sociedade?
Já dizem por aí que viver é uma arte! Talvez viver seja uma arte circense em que precisamos nos equilibrar em uma corda bamba para tentar chegar do outro lado, embora tenhamos a certeza da queda, o que nos leva a estabelecermos redes e equipamentos de segurança...
Tenho pensado muito sobre a "falta de tempo"/"prioridade"/"valores individuais e coletivos", acho que poderei contribuir com alguns outros fatores além dos mapeados.
Penso que seja muito importante olharmos para nossas "faltas de tempo" com carinho e muito autorrespeito; sem desconsiderar o outro das equações relacionais, mas buscando compreender a importância do tempo para nós mesmos. Talvez esta seja uma forma de autoconhecimento.