298/2023 - Dialogar para crescer

Hoje me detive no poder explicitado no texto, o poder de ouvir os outros. Por algum motivo alheio à minha dimensão consciente, fiquei intrigado com estes dois conceitos juntos "poder" e "ouvir"

Certa vez vi um vídeo publicado em uma rede social que dizia que poder é a capacidade que temos de influenciar o fluxo da vida alterando o curso dos fatos.

Esta ideia me remeteu à consciência sobre mim, sobre o ambiente e sobre os processos em curso naquele ambiente, que podem ou não me envolver diretamente. Neste contexto, percebo que muitas vezes nós seguimos cegos, incapazes de compreender este quadro dinâmico e complexo a que nos habituamos a chamar de vida.

Com percepções restritas e foco curto, diante da miopia natural causada pelo desconhecimento, que nos impedem de ver detalhadamente o quadro completo que se desenha à minha volta, nós acabamos nos detendo a fragmentos acessíveis, àquilo que está próximo de nós e que nos afeta diretamente de alguma forma. 

Exploramos o mundo através do que percebemos, mas tentamos solucionar os mistérios que nos afetam, ou seja, a ação sobre nós daquilo que não percebemos ou que não compreendemos, mas que nos sensibiliza. Muitas vezes, por exemplo, projetamos raiva vigorosa sobre determinadas relações porque, embora não compreendamos com clareza, fomos frustrados em outras relações e não conseguimos lidar com a expectativa não atendida.

Aplicamos energia dirigida e concentrada nos micro-fragmentos de realidade percebidos por nós e tentamos compreender o todo pelas pistas a que temos acesso, enquanto buscamos estabelecer o controle sobre o todo através destes fragmentos para vivermos com menos incertezas e mais segurança.

Pesquisamos e agimos nas partes na esperança de que consigamos melhorar nossa compreensão e controle sobre o conjunto que integra estas partes a outras e a nós mesmos. Neste sentido, nosso poder de ouvir, nossa capacidade de ouvir torna-se importante ferramenta de ação e de pesquisa sobre a realidade.

O que percebo constitui caminho de construção de autonomia e de liberdade; de estabelecimento de poder no sentido proposto pelo vídeo da rede social. Através do outro aprendo sobre mim e sobre o mundo.

Percebendo a realidade em algum nível, ouvindo o outro, talvez nos habilitemos a acessar melhor a realidade complexa em que estamos enredados. Saímos de nosso universo e começamos a perceber as relações que nosso universo estabelece com os universos que estão à nossa volta; compreendemos melhor os limites que nos diferenciam dos outros.

Atento à importância, para mim, da escuta do outro, acredito que a nossa motivação para ouvir é diferente da motivação de Deus, mas também acredito que a audição do outro e o estudo das relações estabelecidas entre nós, constituem processo valioso de ampliação da compreensão sobre nós mesmos e sobre o mundo. 

Assim, através da escuta aprendemos mais sobre a criação e talvez sejamos capazes de definir com mais clareza o que ou quem é Deus, com todas as motivações à escuta que possua.

Mas existem muitas formas de ouvir e talvez só percebamos aquelas formas que estão relacionadas às perguntas que fazemos, às intensões que carregamos, aos desejos que estão estabelecidos em nós e às dores que nos afetam.

Buscar ajudar outras pessoas perguntando-lhes o que precisam, desta forma, talvez seja um caminho para percebermos com maior clareza as nossas próprias dores e dificuldades, uma percepção muito pouco explorada por nós na sociedade estabelecida.

Atentos ao outro e desatentos a nós mesmos, muitas vezes nos dedicamos à melhoria da sociedade, ao atendimento do outro e nos esquecemos de nos ouvir. Por isso, defendo a ideia de que é igualmente importante ouvirmos nossas respostas internas às respostas dadas pelo outro.

Como as necessidades do outro reverberam em mim? Que valores, críticas e julgamentos afloram quando entro em contato com a resposta do outro?

Se começamos o dia perguntando como podemos ajudar, estamos também começando o dia avaliando nosso estado de crenças e valores, assim como nossas próprias necessidades.

Talvez, diante da resposta do outro à nossa pergunta matinal, não tenhamos a obrigação de ajudar, não nos sintamos na obrigação de ajudar, ou não possamos ajudar; mas estaremos inventariando nossas capacidades e decidindo como exerceremos nosso poder na relação. Nossos silêncios, justificativas e negações, assim como nosso esforço em atender às necessidades do outro, influenciarão, por certo, o fluxo da vida; sempre somos capazes de alterar o curso dos fatos! 

Resta-nos decidir com clareza a intensão com que perguntamos e respondemos ao outro nas relações que estabelecemos.

Hoje me detive no poder explicitado no texto, o poder de ouvir os outros. Por algum motivo alheio à minha dimensão consciente, fiquei intrigado com estes dois conceitos juntos "poder" e "ouvir"

Certa vez vi um vídeo publicado em uma rede social que dizia que poder é a capacidade que temos de influenciar o fluxo da vida alterando o curso dos fatos.