🎼Tão fácil perceber🎼
🎼que a sorte escolheu você🎼
🎼e você cego, nem nota🎼
+118-248
muita paz
Parece uma constatação paradoxal! Vemos bem, avaliamos detalhadamente e diagnosticamos com precisão a vida do outro. Entretanto, olhar-se com a mesma capacidade diagnóstica parece ser algo quase impossível.
Talvez tenhamos hipermetropia, o que justificaria vermos bem à distância e mal em distâncias curtas...
É como se só conseguíssemos ver quando dissociamos, quando projetamos fora de nós o que somos, o que sentimos, o que tememos...
Arrisco dizer que aquele que classifica a visão do que o outro não vê como uma tarefa fácil, é igualmente hipermetrope em relação às suas próprias questões.
Talvez temamos reconhecer nossas sombras, talvez tenhamos baixa autoestima, talvez atribuamos muita autoridade ao outro para realizar a tarefa de dar significado a quem somos...
Habituados pela avaliação e julgamento do outro através de nosso processo educacional e familiar, parece que aguardamos que um agente externo declare se somos bons ou maus, merecedores ou não, sortudos ou azarados. Aguardamos um certificado externo de validação que nos autorize a sermos.
Este fenômeno é tão curioso e frequente, que construímos o comportamento social de julgar de forma negativa o outro que tenha segurança sobre si e autoimagem elevados. É categorizado como arrogante e orgulhoso, sendo uma pessoa digna de críticas e merecedora de ações de cancelamento social.
De maneira geral, esperamos do outro um comportamento de subserviência e de anulação de si, permitindo que nós o definamos conforme nossos conjuntos de crenças e valores.
Indo mais além na questão, pensar-se sem a capacidade de perceber-se com sorte talvez signifique permitir e esperar que o outro avalie os nossos sucessos e fracassos.
Mas, se não notarmos nossa sorte, talvez nem consigamos nos pensarmos em relação e não sejamos capazes de atribuir valor ao que efetivamente vivemos.
Falar em autoestima, autonomia e liberdade, neste contexto, passa por refletirmos sobre nossos próprios sonhos e escalas de valores enquanto avaliamos a importância que damos ao julgamento do outro sobre nossas vidas.
Há, entretanto, outra consideração possível. Talvez tenhamos a clareza do que nos ocorre em relação às nossas crenças, valores, desejos e expectativas. Talvez, sob nossa ótica, não nos vejamos como pessoas de sorte porque não atingimos o que esperamos da vida.
Nossa visão sobre nós mesmos pode ser precisa e realmente não tenhamos sorte. Neste contexto, talvez a visão de nossa vida pelo outro, conforme suas próprias crenças e valores, seja o ponto-chave da avaliação de sermos sortudos cegos.
Será que o outro estaria projetando em nós suas expectativas, desejos e frustrações? Talvez estejamos no lugar que este outro deseja estar, mas não consegue...
Parece uma constatação paradoxal! Vemos bem, avaliamos detalhadamente e diagnosticamos com precisão a vida do outro. Entretanto, olhar-se com a mesma capacidade diagnóstica parece ser algo quase impossível.
Talvez tenhamos hipermetropia, o que justificaria vermos bem à distância e mal em distâncias curtas...
É como se só conseguíssemos ver quando dissociamos, quando projetamos fora de nós o que somos, o que sentimos, o que tememos...