254/2024 - Inconscientes também amam

Inquietação
É possível amar sem compreender?
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254/2024 - Inconscientes também amam
dia do ano
254
Inconscientes também amam
mensagem

Para saber como amar alguém, devemos entender e respeitar essa pessoa.
Para entendê-la e respeitá-la, precisamos escutar sempre.
+254-112
muita paz

reflexão

O livro Orientação para tempos difíceis quando tudo se desfaz de Pema Chödrön nos fala de uma distinção entre o que sentimos e o que conseguimos compreender cognitivamente. Segundo a autora, o amor e a coragem estão entre as coisas que nomeamos, que sentimos, mas que não compreendemos; o que me remeteu ao pensamento de hoje. 

Parece que na ideia de amor cabe o universo inteiro, mas, ao mesmo tempo, excluímos muitas possibilidades da composição deste amor, idealizando-o de formas talvez inalcançáveis.

É possível que a expressão "amar alguém" seja um código para algo que não conseguimos conceituar através da cognição, mas que sentimos. Seria uma expressão para uma necessidade relacional, uma convocação à integração com a vida e com o sagrado?

Já confessei diversas vezes neste projeto a minha dificuldade em definir o amor e, portanto, de definir o ato de amar. Amar de forma dirigida, consequentemente, seria uma utopia distante para minhas pequenas capacidades.

Mas gosto de pensar o amor como a partícula elementar da criação, a assinatura do criador que está contida em tudo; de onde emana uma energia integrativa, uma espécie de cola do universo que nos convoca à integração.

Amar, nesta ideia, seria integrar-se ao universo, algo que pode constituir uma busca consciente pelo estabelecimento de relações.

Talvez possamos nos propor a amarmos alguém a partir daí, achando formas de nos relacionarmos positivamente com este alguém. Entender e respeitar talvez não sejam as únicas estratégias, mas uma estratégia interessante para individualidades como nós, em fase de crescimento de autoconsciência e de busca pelo Divino por tudo o que é sagrado.

Negociamos limites de atuação de nossos egos para termos a certeza de nossa existência. Queremos liberdade e nos sentimos constrangidos quando a busca de liberdade do outro avança sobre os limites de nossa identidade. Forçados pelo universo a nos relacionarmos, nos sentimos invadidos pela ação do outro e exigimos respeito.

Queremos viver em paz, sempre crescendo, e nos propomos a respeitar os limites existenciais do outro para que ele respeite os nossos limites existenciais. 

Nesta negociação, precisamos entender os nossos limites e os limites do outro para agirmos livremente no universo entre estes limites. 

É neste sentido que percebo a ideia proposta de escutar sempre. Seria uma forma ativa de mapeamento dos limites existenciais para garantir nossa liberdade de ação sem que ela interfira ou atrapalhe na liberdade de ação do outro.

Mas talvez possamos seguir mais profundamente nesta questão. Para além das necessidades impostas pelo ego, que se sente ameaçado diante da permeabilidade dos próprios limites.

Talvez não exista espaço entre os limites existenciais e estejamos olhando sempre para alguma fronteira entre o nós e eles.

Talvez nem existam limites existenciais e nos interpenetremos reciprocamente para compor o tecido do universo, enquanto experimentamos o paradoxo de existir singularmente sem a necessidade de manutenção de limites. 

Neste cenário, reconheceríamos que é impossível existir sem sofrer a influência de tudo o que existe e é diferente de nós mesmos. Interpenetrados, coexistindo no sagrado e mantendo nossas individualidades, interferiríamos naturalmente sobre outras existências, sem que isto seja uma ameaça à individualidade. 

Amar alguém, nesta ótica não egoica, seria aceitar o outro com seus mistérios, reconhecer suas influências sobre nós como contribuições positivas e ofertar a ele o nosso melhor, sem a pretensão de transformá-lo ou modificá-lo de alguma forma. O outro seria livre para tomar o nosso amor e fazer dele o que desejasse.

Escutar, nesta visão espiritual integrativa que transcende os egos, seria colaborar com o funcionamento do universo enquanto recolhemos subsídios para vivermos plenamente nossa própria singularidade.

Confiantes em uma sabedoria integrativa superior às nossas capacidades de compreensão, viveríamos a certeza de que oferecemos e recebemos o melhor sempre, embora nem sempre compreendamos imediatamente o significado do que nos acontece.

Neste contexto, mesmo os atravessamentos aos limites construídos por nossos egos, vistos hoje como atos de desrespeito, seriam materiais importantes e úteis para o nosso crescimento espiritual. Seriam a chave da transcendência de nossos egos para o acesso a dimensões espirituais ainda pouco compreensíveis para nossas capacidades cognitivas.

Amar, desta forma, seria deixar-se penetrar pelo outro, que é diferente de nós, e que nos oferta a dádiva de sermos quem somos para além das fronteiras de nós mesmos. Mas esta seria uma postura utópica e distante de nossas possibilidades atuais que precisa de estratégias operativas básicas como a escuta, o respeito e o entendimento do outro.

Através da livre expressão de nossos egos, construímos o entendimento de quem somos e, através deste entendimento, acredito que conseguiremos aceitar o outro que interfere sobre nós pelo simples fato de existir, assim como nós.

reflexão

O livro Orientação para tempos difíceis quando tudo se desfaz de Pema Chödrön nos fala de uma distinção entre o que sentimos e o que conseguimos compreender cognitivamente. Segundo a autora, o amor e a coragem estão entre as coisas que nomeamos, que sentimos, mas que não compreendemos; o que me remeteu ao pensamento de hoje. 

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