Fé como Construção Racional: Inspirado por Allan Kardec, o texto sugere que a fé deve ser uma construção individual e racional, baseada na compreensão das leis do universo, em vez de uma crença cega.
Busca por Comodidade e Desenvolvimento Humano: O texto questiona se a busca por comodidade e estabilidade no mundo material é problemática ou uma etapa necessária no desenvolvimento humano, considerando a relação entre fé cega e raciocinada.
Viver Crenças com Sinceridade e Coerência: O texto propõe que viver nossas crenças com sinceridade é um ato de responsabilidade e que a coerência entre ação e crença pode levar a uma felicidade autêntica, incentivando a aceitação generosa da própria fé, mesmo que ela seja diferente das dos outros.
Pai, dá-nos uma fé verdadeira, livre das seduções e da malícia do comodismo, livre das supertições que tiram a responsabilidade.
Que nossa fé seja coerente, transparente e dedicada, que ela nos reforce na luta diària e que sejamos mais irmãos, mais confiantes para nos tornarmos mais felizes.
Que assim seja.
+343-023
--
Recordei de um conceito trazido pelo pensador Allan Kardec, que viveu na França em meados de 1800. Ele sugere que a fé é uma construção individual, algo que não pode ser prescrito, que precisa ser desenvolvido. Segundo ele, a fé é ferramenta libertadora à medida que deixa de ser cega para estar embasada no uso da razão, na compreensão das leis que fundamentam o funcionamento do universo.
Penso que, à medida que compreendemos o universo, nos capacitamos a agir sobre ele com mais propriedade e eficiência, sendo capazes de ações mais assertivas e garantidoras da felicidade. Pouco a pouco abandonamos a fé cega e adentramos o campo da fé raciocinada.
Entretanto, o desenvolvimento da fé tem nos levado à descoberta de um mundo imaterial, anterior e sobrevivente a tudo que existe. Neste contexto, a fé, ainda segundo Kardec, pode ser humana ou divina. À medida que se debruça sobre os fenômenos materiais ou sobre os espirituais, respectivamente, a descortina o próprio patrimônio singular do sujeito, regido por leis imutáveis que determinam o universo.
É neste universo que fiquei pensando sobre a fé verdadeira. Seria verdadeira por estar livre das incertezas, de instabilidades e de impermanências da matéria? Ou a fé verdadeira seria aquela que se estabelece na medida possível de nosso entendimento e da nossa capacidade de mobilizar esforços com intencionalidade e propósito para organizar a realidade material e espiritual à nossa volta?
Será que há algum problema em manifestarmos fé cega ou humana? Teríamos sido seduzidos? Ou estaríamos desenvolvendo nossa fé à medida que crescemos como sujeitos e escrevemos nossas histórias?
Vendo sob este prisma, não estaríamos todos mobilizados pela busca progressiva de comodidade? Desejosos por viver o maior tempo possível, talvez o comodismo seja uma resposta muito racional de economia de energia em um mundo instável, mutável e cheio de ameaças.
Se considerarmos aspectos biológicos e energéticos, características do mundo material em constante mutação, estabelecer estabilidade talvez signifique viver por mais tempo e fazer menos esforços. Será que há malícia nisso? Ou será apenas um momento necessário de nossa jornada, enquanto não nos desenvolvemos suficientemente para percebermos que não somos matéria e sim que usamos a matéria?
Escrevemos histórias e desenvolvemos teorias enquanto tentamos nos tornar mestres no uso da matéria. As leituras e interpretações neste contexto de desbravadores nos levarão a diversas construções válidas, embora parciais e temporárias. O que foi verdade em algum momento pode tornar-se crendice ou superstição em outro momento, mas terá servido como agente de mobilização de nossa capacidade humana diante do mundo e da vida. Viver nossas crenças com sinceridade talvez seja o maior ato de responsabilidade que possamos assumir diante da vida.
Penso que atos de coerência envolvem integração intencional entre ação e crença; uma percepção de identidade, de autenticidade e de liberdade que nos permite dedicação sincera e intensa em nossas jornadas diárias. Talvez aí resida a felicidade sincera e real, que se amplia à medida que crescemos e conhecemos mais sobre o mundo.
Assim, que possamos acolher sempre com generosidade a nossa própria fé, mesmo que seja diferente e até divergente em relação à fé de outras pessoas.
Mensagem Disparadora
Pai, dá-nos uma fé verdadeira, livre das seduções e da malícia do comodismo, livre das superstições que tiram a responsabilidade.
Que nossa fé seja coerente, transparente e dedicada, que ela nos reforce na luta diária e que sejamos mais irmãos, mais confiantes para nos tornarmos mais felizes.
O texto aborda uma reflexão profunda sobre a natureza da fé, inspirada pelo pensamento de Allan Kardec. Kardec propõe que a fé deve ser uma construção individual e racional, fundamentada na compreensão das leis do universo, ao invés de ser uma crença cega. O autor do texto questiona a verdadeira essência da fé, ponderando se ela deve estar livre das incertezas materiais ou se deve ser baseada na nossa capacidade de agir com intenção e propósito no mundo.
Há uma discussão sobre a fé cega versus a fé raciocinada, e se a busca por comodidade e estabilidade no mundo material é um problema ou uma etapa necessária em nossa jornada de desenvolvimento. O texto sugere que viver nossas crenças com sinceridade é um ato de responsabilidade e que a coerência entre ação e crença pode levar a uma felicidade autêntica.
Por fim, o autor encoraja a acolher nossa própria fé com generosidade, mesmo que ela seja diferente da fé dos outros, enfatizando a importância da autenticidade e da liberdade em nossas jornadas pessoais.
Recordei de um conceito trazido pelo pensador Allan Kardec, que viveu na França em meados de 1800. Ele sugere que a fé é uma construção individual, algo que não pode ser prescrito, que precisa ser desenvolvido. Segundo ele, a fé é ferramenta libertadora à medida que deixa de ser cega para estar embasada no uso da razão, na compreensão das leis que fundamentam o funcionamento do universo.
Para encontrar uma poesia que dialogue com as três ideias principais do texto — fé como construção racional, busca por comodidade e desenvolvimento humano, e viver crenças com sinceridade e coerência — recomendo "Cântico Negro" de José Régio.
Essa poesia explora temas de autenticidade, a busca por um caminho próprio e a rejeição do conformismo, que ressoam com as ideias do texto. "Cântico Negro" foi publicado originalmente na obra "Poemas de Deus e do Diabo" em 1925. A autoria é confirmada como sendo de José Régio, um renomado poeta português, sem outras autorias associadas a essa obra.
Se você estiver interessado em explorar mais sobre essa poesia, ela é amplamente estudada e comentada em diversas antologias de poesia portuguesa e pode ser encontrada em publicações que reúnem a obra de José Régio.
CÂNTICO NEGRO - José Régio
“Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
música no estilo rock que dialoga com as três ideias principais do texto é "The Logical Song" da banda Supertramp.
Lançada em 1979 no álbum "Breakfast in America," a música explora a perda da inocência e a busca por significado, questionando a lógica e a racionalidade em contraste com a autenticidade e a essência pessoal. Isso ressoa com a ideia de fé como construção racional e a busca por um entendimento mais profundo da vida. A letra também reflete sobre a pressão para se conformar e a luta para manter a autenticidade e a coerência pessoal, alinhando-se com as ideias de viver crenças com sinceridade e a busca por desenvolvimento humano.
Richard Rorty
Filósofo americano, Rorty é conhecido por seu pragmatismo e crítica à filosofia tradicional.
Obra: "Contingência, Ironia e Solidariedade" (1989).
Relação: Explora a construção da identidade e a busca por autenticidade.
Amartya Sen
Economista e filósofo indiano, Sen é conhecido por seu trabalho em desenvolvimento humano e justiça.
Obra: "Desenvolvimento como Liberdade" (1999).
Relação: Discute o desenvolvimento humano como meio para a liberdade, alinhando-se ao texto.
Bruno Latour
Sociólogo e antropólogo francês, Latour é conhecido por seu trabalho em estudos de ciência e tecnologia.
Obra: "Jamais Fomos Modernos" (1991).
Relação: Desafia as distinções entre natureza e sociedade, relacionando-se com a construção racional da fé.
Nancy Fraser
Socióloga e filósofa americana, Fraser é conhecida por suas análises sobre justiça social e reconhecimento.
Obra: "Redistribuição ou Reconhecimento?" (2003).
Relação: Explora a importância do reconhecimento para a identidade, conectando-se à autenticidade e coerência.
Joyce McDougall
Psicanalista francesa, McDougall é conhecida por seu trabalho sobre a psicossomática.
Obra: "Teatros do Corpo" (1989).
Relação: Explora a relação entre corpo e mente, conectando-se à autenticidade e compreensão racional.
Maria Rita Kehl
Psicanalista brasileira, Kehl é reconhecida por suas contribuições ao debate social e político.
Obra: "O Tempo e o Cão" (2009).
Relação: Explora a depressão na contemporaneidade, conectando-se à busca por compreensão e autenticidade.
Que religiões concordariam com o texto?
O texto propõe uma visão da fé como uma construção racional e individual, que busca equilíbrio entre crença e razão, e promove autenticidade e coerência entre ação e crença. Algumas tradições religiosas que podem concordar com essa abordagem incluem:
-
Espiritismo: Fundado por Allan Kardec, o espiritismo enfatiza a fé raciocinada, baseada na compreensão das leis espirituais e universais, alinhando-se bem com a ideia de uma fé construída racionalmente.
-
Budismo: Embora não seja teísta no sentido tradicional, o budismo valoriza a prática consciente e a compreensão pessoal, promovendo uma abordagem racional e experiencial da fé e do entendimento espiritual.
-
Unitarianismo Universalista: Esta tradição religiosa liberal encoraja a busca individual por verdade e significado, promovendo uma abordagem racional e inclusiva à espiritualidade.
-
Hinduísmo: Algumas escolas dentro do hinduísmo, como o Vedanta, promovem a busca por conhecimento e autorrealização, enfatizando a importância da razão e da experiência pessoal na jornada espiritual.
-
Religiões Reformistas: Algumas vertentes reformistas de religiões abraâmicas, como certos ramos do judaísmo reformista ou do cristianismo liberal, podem valorizar a integração da razão com a fé e encorajar uma abordagem mais pessoal e racional da espiritualidade.
Essas tradições, entre outras, podem encontrar ressonância com a visão apresentada no texto, que valoriza a coerência, a autenticidade e a integração entre razão e fé.
A umbanda concorda com o texto?
A Umbanda, como religião brasileira que integra elementos de diversas tradições espirituais, pode encontrar pontos de concordância com o texto. A Umbanda valoriza a prática espiritual que é aberta à interpretação e à experiência pessoal, o que pode se alinhar com a ideia de uma fé que é uma construção individual e racional. Além disso, a Umbanda enfatiza a importância da caridade, do autoconhecimento e da evolução espiritual, aspectos que podem ressoar com a busca por autenticidade e coerência entre ação e crença mencionada no texto.
No entanto, a Umbanda também incorpora elementos de fé que são mais intuitivos e místicos, o que pode diferir da ênfase do texto na racionalidade. Em suma, enquanto alguns aspectos da Umbanda podem concordar com a visão do texto, outros podem oferecer uma perspectiva complementar que valoriza a experiência espiritual direta e o misticismo.
O espiritismo de Allan Kardec concorda com o texto?
Sim, o espiritismo de Allan Kardec concorda em grande parte com as ideias apresentadas no texto. Kardec enfatizou a importância de uma fé raciocinada, que é construída com base no uso da razão e na compreensão das leis espirituais e universais. Essa abordagem está alinhada com a ideia de que a fé deve ser uma construção individual e racional, como mencionado no texto.
Além disso, o espiritismo valoriza o autoconhecimento, a evolução espiritual e a responsabilidade pessoal, que se conectam à busca por autenticidade e coerência entre ação e crença, também destacadas no texto. A visão de Kardec sobre a fé como uma força libertadora, fundamentada no raciocínio e na compreensão, ressoa fortemente com os temas discutidos no texto.
Que religiões não concordariam com o texto?
Religiões que tradicionalmente enfatizam a fé como uma aceitação inquestionável de dogmas ou ensinamentos podem não concordar com o texto, que propõe uma visão da fé como uma construção racional e individual. Algumas dessas religiões ou vertentes podem incluir:
-
Fundamentalismo Religioso: Em várias tradições, o fundamentalismo enfatiza a aderência estrita a textos sagrados e dogmas, com menos espaço para a interpretação individual e racionalidade, o que contrasta com a visão do texto.
-
Cristianismo Ortodoxo: Embora haja diversidade dentro do cristianismo ortodoxo, algumas interpretações podem enfatizar a tradição e os ensinamentos da igreja como fundamentos da fé, em vez de uma construção individual e racional.
-
Islamismo Ortodoxo: Algumas vertentes do islamismo que enfatizam a submissão total aos ensinamentos do Alcorão e dos Hadiths podem não ressoar com a ideia de uma fé construída racionalmente e individualmente.
-
Judaísmo Ortodoxo: Semelhante a outras tradições ortodoxas, o judaísmo ortodoxo pode enfatizar a observância rigorosa da lei religiosa e tradição, o que pode não se alinhar com a abordagem racional e individual do texto.
Essas tradições podem ver a fé mais como uma adesão a princípios estabelecidos e menos como uma construção individual baseada na razão, o que pode levar a discordâncias com as ideias apresentadas no texto.
Richard Dawkins
Biólogo e escritor britânico, Dawkins é um crítico proeminente da religião e defensor do ateísmo.
Obra: "Deus, um Delírio" (2006).
Relação: Dawkins rejeitaria a ideia de fé racional, vendo-a como irracional e prejudicial.
Jean-Paul Sartre
Filósofo francês, Sartre era um existencialista que rejeitava a ideia de um sentido pré-determinado na vida.
Obra: "O Ser e o Nada" (1943).
Relação: Sartre veria a fé como uma má-fé, uma fuga da responsabilidade individual.