O coração! Máquina magnífica capaz de traduzir as emoções em movimento ou calmaria no corpo.

Com seus jeitos especiais de bombear o sangue, acelera ou desacelera o fluxo de oxigênio para nos colocar em ação ou em repouso, mas parece ter vida própria.

Recusando-se a atender o comando consciente, revela nossos traumas, amores, rancores, tristezas e alegrias, surpreendendo nossas mentes muitas vezes. Tomados pelos automatismos da emoção, faz o corpo dizer o que a mente deveria escutar, mas que se recusa a colocar em palavras escritas ou faladas.

Este órgão vital, do tamanho de um punho fechado, bate acelerado diante de amores e perigos e leva o corpo a um estado de atenção à possibilidade de ação intensa.

Cheiros, fotos e sabores despertam as memórias táteis do corpo, as lembranças mentais do que vivemos e trazem a emoção vivida para contar para o coração sobre a importância de reviver o movimento e viver com intensidade.

Empolgado, o coração bate forte e diz para nossas mentes desatentas que um momento especial está em curso.

Diante do estímulo de um livro, de um sabor ou de um toque, nossas mentes despertam com o coração e nos lembram que estamos vivos e cheios de desejos, medos e aprendizados.

Mas o que fazer com este arroubo de oxigênio que atravessa nosso corpo sob a batuta do coração que bate com intensidade?

Gosto de pensar que estes momentos são preciosos instantes que podem nos levar à gratidão, aos lugares de afeto e às possibilidades de transformação e cura de nossas realidades. Também podem ser usados para o lamento, para a tristeza e até mesmo para alimentar raiva. Mas temos nos especializado nisso e talvez por isso estejamos tão adoentados psiquicamente. 

Mentes especializadas no pesar, no combate e no luto talvez não tenham a oportunidade de estabelecer esperança e a alegria que alimentam o conforto e a paz. 

Quando meu coração dispara, procuro me assegurar de que as emoções revividas escrevam trajetos de esperança, confiança, paz e solidariedade na mente. Estes momentos serão alimentos futuros para a alma e vias importantes para viver em paz. Mesmo os traumas, perdas e raivas podem ser fomentadores de histórias de transformação, cura e superação.

Não fujo dos livros cheios de cheiros, mas procuro escrever histórias humanas bonitas a cada disparada do coração. Acredito que, assim, o meu mundo interno será um lugar cada vez mais bonito de se habitar e visitar.