O Sol Interior: Inspirando-se no Inatingível para Viver o Universo de Possibilidades.
329/2024 - O Espelho e o Universo329 - 2024 (24/11/2024)MensagemSenhor, que possamos nos espelhar em vós para que possamos, também, aprender verdadeiramente, em que consiste viver com responsabilidade a plenitude do amor.
+329-037
muita pazReflexãoO que saltou ao meu coração com esta prece dominical foi a ideia de nos espelharmos no criador, sugerindo claramente a escolha de um modelo ou de uma referência relacional para a nossa caminhada.
A escolha de um modelo para nos guiar revela a constatação de que, como seres humanos, talvez nos percebamos seres incompletos que reconhecem a necessidade de referências para nortear a jornada da vida por caminhos de incerteza que o universo nos oferece.
A escolha de um modelo também pode ser uma indicação forte de que temos uma ideia sobre o nosso desejo. Projetamos no futuro uma resolução para a nossa incompletude, passamos a mobilizar nossos atos no presente para construirmos a felicidade no futuro.
Historicamente, a religião cumpre estes papéis para a humanidade. Diante das dúvidas, dores e incertezas, as religiões oferecem uma visão distante, uma espécie de desejo coletivo, e um caminho para atingi-la por ritos e condutas. A adesão do sujeito a uma religião carrega o desejo de transformação da realidade individual do sujeito, que se submete ao caminho proposto, o que garantiria a ele o acesso seguro aos estados futuros de felicidade.
Estes papéis de mapeamento de uma dor existencial causada pela falta de sentido do existir, de materialização de um desejo coletivo e de oferta de uma solução de longo prazo, de certa forma, não são características exclusivas da religião. Também são alvo da ciência, da filosofia e das artes, que, cada área a seu modo, oferecem ferramentas para podermos existir com sentido, reduzindo sofrimentos e norteando a ações coletivas.
Há uma busca humana pelo sentido de existir, que também poderia ser traduzido como busca pela felicidade.
Entretanto, a ideia proposta de nos espelharmos na plenitude do amor, vivido com responsabilidade divina, também traz ao meu coração um grande desafio e certa inquietação.
Quando estabelecemos nossas referências, o fazemos baseados na ideia de que também podemos agir daquela forma. Aquele modelo eleito seria acessível de alguma forma para a nossa conduta, mesmo que exija muitos esforços.
A prática religiosa ocidental, de maneira ampla, embora não exclusiva, reconhece uma potência sagrada soberana, um criador, que é, por natureza de definição, inacessível às criaturas. Desta forma, talvez o espelhamento indicado esteja propondo um modelo que nunca poderemos acessar plenamente. Se olharmos para o modelo escolhido sob o prisma de irreprodutibilidade, seria um modelo utópico de responsabilidade.
Utópico no sentido de algo inacessível e irrealizável, mas que orienta nossos esforços para possibilidades inéditas, mas não à reprodutibilidade.
Neste caso, estaríamos diante do sol que nasce no horizonte todos os dias. Ele atrai nossa atenção, dirige nosso olhar, orienta nossos sonhos e nossas viagens, mas jamais poderá ser acessado.
Se mirarmos em chegar ao sol, estamos escrevendo histórias futuras de frustração, mas se nos inspirarmos no que ele causa em nós, podemos ser aventureiros exploradores que possuem o universo como campo de crescimento e aprendizado.
Algo potente, suficientemente grande e infinitamente misterioso, pode funcionar como ponto de referência em nossas jornadas. Por onde quer que caminhemos, teremos um ponto de referência para validarmos nossos passos e avaliarmos nossos aprendizados.
Talvez a vida se limite a uma jornada entre a nossa origem esquecida e um ponto inalcançável de referência no infinito. Neste caso, teríamos o universo de possibilidades de realização em nossas existências, a partir do ponto em que nos encontramos. Penso que acolher esta incerteza e vivê-la com a plenitude máxima daquele que busca através da religião, da ciência, da filosofia e das artes é a ação responsável que podemos incluir em nossas práticas existenciais.