Amor e Neurose: Construindo Pontes entre Traumas e Relações Verdadeiras
337/2024 - Traumas e Conexões337 - 2024 (02/12/2024)MensagemAs relações humanas estão sendo construídas em alicerces neuróticos e sem sinceridade.
Mudem o foco e sigam este mandamento: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.
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muita pazReflexãoLembrei de um texto do Nilton Bonder que usa uma definição de Neurose atribuída a K. Tyman: "Neurose é um segredo que você não sabe que está guardando"
Gosto muito desta definição e, por isso, me perguntei se temos capacidade de escolha na hora em que definimos alguns alicerces para nossas relações.
Acredito que as relações mais profundas ocorrem quando a vida interage com quem realmente somos. Mas, se precisamos exercitar muito autoconhecimento porque nos desconhecemos, talvez as relações mais profundas não possam ser definidas com escolhas conscientes e cheias de propósitos. É provável que não possamos mudar o foco como uma escolha diretiva, resolutiva e de resultado imediato!
Em algum momento cavamos fundo para deixar esquecido o que será eternamente lembrado. Assim nascem as neuroses. Traumas, experiências marcantes, determinam automatismos para nossa maneira de ser, que seguem se manifestando sem que estejamos conscientes das causas.
Podemos pensar, na psicanálise, a neurose como um estado psíquico que se caracteriza por uma forma de defesa do psiquismo contra conflitos e angústias internas. No entanto, essas defesas podem gerar sintomas que prejudicam o bem-estar do indivíduo. Sabemos que traumas emocionais, como abuso, negligência ou eventos estressantes, podem desempenhar um papel significativo no desenvolvimento da neurose.
Relações humanas construídas sobre alicerces neuróticos talvez signifique que nossas relações estão sendo construídas a partir de vivências traumáticas que estão inacessíveis à nossa consciência. Talvez estejamos muito machucados psiquicamente e estejamos projetando nossas neuroses em nossas relações, envolvendo outras pessoas como se elas fossem potenciais agressores capazes de nos fazer reviver nossos traumas.
Diante da ameaça imaginada, que pode ser real ou concretizável, mas que também pode não se justificar, como não vestir máscaras ou escudos protetores? Como relacionar-se sem medos e sem armas de defesa do psiquismo?
Seguir o mandamento, como proposto, talvez seja um verdadeiro atentado ao psiquismo já ferido, portador de traços neuróticos. Ignorar a própria história, desvalorizar as vivências, abandonar as próprias construções, assumir referenciais externos seria mutilar a si, negar-se.
Como nos conciliarmos com a palavra de ordem cristã?
Este será um bom desafio se não buscarmos orientações adicionais. Busco nas palavras de Jesus um caminho de conciliação.
"Amarás ao próximo como a ti mesmo"
Com que intensidade percebemos o amor de Jesus por si? Somos capazes de percebê-lo atento às próprias necessidades, aos alicerces de seu psiquismo?
Acredito que o alívio das neuroses pode ocorrer quando somos capazes de reconhecer a autoridade que temos sobre nós mesmos e sobre as respostas que podemos oferecer a nós mesmos diante dos atravessamentos que a vida nos apresenta.
Com maior capacidade de resiliência adaptativa, ficaríamos menos expostos aos congelamentos psíquicos causados pelos traumas e pelo medo de revivermos as dores destes traumas.
Por este caminho, ao nos relacionarmos, seríamos capazes de dar mais espaço ao outro, e a nós mesmos, nos encontros que a vida promove. Precisando de menos defesas, viveríamos com mais segurança e liberdade, o que abriria espaço para que o outro se relacione mais abertamente conosco.
É neste contexto que compreendo a importância do esforço para imitarmos Jesus, amando o outro sem fronteiras. Seria necessário, primeiramente, construirmos segurança e saúde psíquica para nós antes de ofertarmos mais espaço para o outro em nossas vidas.