• A Dualidade do Ser: Como Orgulho e Humildade Moldam Nossa Identidade

    340/2024 - Identidade em Tensão
    340 - 2024 (05/12/2024)
    Mensagem

    O orgulho se cura com humildade 
    Humildade para reconhecer nossos limites e tentar superá-los com esforço constante.
    Humildade para reconhecer que não é errado errar, mas que não nos convém permanecer no erro, tampouco desistir de continuar até acertar, aprimorando-nos na experiência.
    +340-026
    muita paz

    Reflexão

    Tenho buscado refletir com mais profundidade sobre este binômio orgulho x humildade, colocado como pilar precioso para a felicidade individual e coletiva por algumas crenças religiosas. 

    Mas seria o orgulho uma doença curável? Seria uma doença? Um mal a ser erradicado? Por quê?

    Fui treinado para ver o orgulho na composição do psiquismo como um elevado conceito que fazemos de nós mesmos em relação ao mundo, como uma espécie de super-valorização de nossas capacidades, habilidades, competências e potenciais. Mas talvez possamos pensá-lo também como uma defesa diante do reconhecimento de nossa fragilidade e do medo de sermos confrontados pela superioridade do mundo à nossa volta.

    Em ambos os casos, parece que estabelecemos a necessidade de atribuirmos o mesmo valor a todas as pessoas, embora não consigamos nos percebermos desta forma em sociedade e acabemos precisando criar comportamentos de defesa para evitar a anulação ou garantir a diferenciação.

    Hoje tenho dificuldade em ver o orgulho como grande vilão, um vilão que menospreza o valor alheio e super-valoriza um indivíduo em detrimento de outros, que exige tratamento diferenciado e reconhecimento por sua superioridade. 

    Talvez tenhamos criado uma expectativa social de que todos somos iguais e que merecemos tratamento igualitário, embora ainda não tenhamos sido capazes de construir estruturas relacionais em sociedade que garantam o atendimento de tal expectativa.

    Neste caso, seríamos criaturas frustradas, sonhadores ou agentes em busca de uma utopia? 

    É difícil dizer...

    Independente da importância ou da pertinência do orgulho na composição de nossa sociedade, carrego uma certeza sobre a ideia de orgulho que eu gostaria de elaborar com mais profundidade, ideia que pode apontar uma ineficiência considerável em nossas jornadas humanas se buscamos progresso.

    Será que o orgulho nos cega para as possibilidades de ampliação de nós mesmos e para os limites que a vida nos apresenta? 

    Presos ao ideal de superioridade ou à necessidade de resistência diante da adversidade, é provável que nosso orgulho faça com que nossos potenciais criativos e resolutivos convirjam para um ponto imediato de nossa existência, congelando-nos e impedindo-nos de ver a cenário real.

    Talvez não seja possível caminhar em determinada direção, mas o orgulho nos impeça de ver esta impossibilidade e continuemos a investir energias em um beco, gerando dores e dificuldades que poderiam ser evitadas.

    Ser humilde, ou não orgulhoso, passa em meu coração por um lugar de reconhecimento de meu tamanho real diante de mim mesmo, das relações que mantenho e da própria vida. Saber meu tamanho, reconhecer o terreno em que me encontro, reconhecer-me em relação, possibilita ação mais consciente e eficiente, capaz de reduzir dores e dificuldades, o que facilitaria a construção de minha paz íntima e da felicidade que tanto almejo.

    Mas, em ambientes de escassez, em cenários adversos, quando estou me relacionando em contexto em que a minha identidade é negada pelo outro, minha humildade pode fazer com que eu perca minha autonomia e a capacidade de intervenção em minha própria vida. Ser orgulhoso poderia me ajudar a delinear um campo relacional em que eu seja capaz de perceber minha própria individualidade. Em outras palavras, se não me conheço suficientemente bem, se estou em ambientes adversos que tendem a objetificar identidades em construção, ser orgulhoso pode ser uma resposta importante e libertadora.

    Acredito que existe uma tensão importante, saudável e necessária entre humildade e orgulho, que serve para constituirmos nossas próprias identidades e negociarmos nossas fronteiras relacionais. 

    Desta forma, me incomodo em pensar sobre a cura do orgulho. Talvez ele não seja um mal a ser vencido, mas uma capacidade humana necessária enquanto não formos capazes de reconhecer e respeitar individualidades singulares em seus potenciais relacionais autênticos.