• A Dança da Vida: Abraçando a Mudança e a Impermanência com Gratidão

    342/2024 - Gratidão e Transformação
    342 - 2024 (12/12/2024)
    Mensagem

    🎼NADA VAI ME FAZER🎼
    🎼DESISTIR DO AMOR🎼
    🎼NADA VAI ME FAZER🎼
    🎼DESISTIR DE VOLTAR🎼
    🎼TODO DIA PRO SEU CALOR🎼
    🎼NADA VAI ME LEVAR DO AMOR🎼
    +342-024
    MUITA PAZ

    Reflexão

    Como o Acordei Inspirado é um movimento de contexto momentâneo, inspirações e subjetividades, uma conversa livre entre amigos inquietos, permiti-me voar com o coração e a mente livres enquanto lia e relia o recorte proposto da música.

    Fui capturado pelo nada, pela irredutibilidade e pela inflexibilidade de Jorge Vercillo na música "Que nem Maré". Sem dúvida, há decisão e propósito quando somos capazes de afirmar que somos inamovíveis, mas como sujeito que busca ser flexível como folha liberta do galho onde nasceu e que navega ao sabor do vento, intrigo-me com a inflexibilidade no tempo.

    Sinto-me como sujeito incompleto e em processo de aprendizado e de construção da completude. Sou sujeito que busca, que não teme aprender, embora seja resistente à mudança em vários contextos da vida. Declarar-me inamovível, irredutível e imutável parece ser uma declaração forte, se for definitiva ou para longos períodos.

    Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. A folha sabe que cairá em algum lugar, que perderá sua força vital e que será desintegrada por organismos vivos em algum momento. Ela também sabe-se nascida para fazer fotossíntese usando o material que recebe das raízes e a luz solar. Mas o que acontece com a folha quando se perde de seu caule? Quando se liberta de sua planta?

    A folha deixa de ser folha porque não recebe mais sais minerais e água vinda das raízes? Privada de fazer fotossíntese e produzir seiva, perde seu propósito e precisará achar novos propósitos a partir dos rumos que o vento e a liberdade lhe oferecem? Ou deverá viver em lamento até que tenha sido completamente consumida e deixe de existir como folha?

    Uma mulher talvez resista à possibilidade de ser mãe até engravidar. Após a gravidez, talvez tenha que se ressignificar. Dificilmente será vista como mulher e a nova função, a maternidade, passará a significá-la, mas quando os filhos morrerem ou aprenderem a cuidar de si, conseguirá voltar a ser mulher? Insistirá em ser mãe? Ou achará novo significado para sua existência até que não possa mais ser vista como pessoa viva?

    Talvez insistamos em voltar para os pontos importantes de nossas vidas, mas o que acontece quando estes pontos deixam de existir? O que faremos quando nossos amores se desconectam de nós para viverem outros amores, quando nossos parceiros falecem, quando somos separados do caule da planta pelos ventos da vida?

    Nestes casos, talvez a inflexibilidade deixe de nutrir a construção de nossos sonhos e comece a funcionar como veneno amargo que impede o acesso a novos sonhos e possibilidades de construção.

    Toda declaração de eternidade deveria ter prazo de revalidação, uma cláusula que nos permita seguir em frente quando a eternidade chegar a seu fim. Penso que declarações de eternidade e de infinitude, inflexíveis por natureza, demonstram a força de nossos desejos e a enorme conexão que estabelecemos com os cenários de vida que estamos experimentando.

    Acredito que seja importante vivermos a intensidade máxima dos momentos presentes que a vida nos oferece. Como sujeitos mutantes vivendo a impermanência, entretanto, talvez seja sábio percebermos que amores e ódios se transformam com o passar do tempo, assim como nossos corpos e funções.

    Inspirados pelas experiências do passado, tentaremos moldar o presente sob a esperança de continuidade no futuro. Entretanto, contextos deixarão de existir e precisaremos abraçar novos contextos, pelo menos até que nós mesmos deixemos de existir. Neste fluxo constante de vida, talvez a felicidade resida no reconhecimento do desejo de manter o que é bom pelo maior tempo possível, embora sabendo que o único momento válido, e que deve ser bem vivido, é o presente.

    Acredito que a eternidade e o infinito existiriam apenas como a projeção de nosso desejo no tempo, enquanto a saudade seria o reconhecimento da importância do que vivemos no passado.

    Por isso, eu gostaria de dizer ao Jorge Vercillo que a felicidade talvez não esteja no retorno ou na persistência, mas no reconhecimento da importância da relação que me permitiu chegar onde cheguei, independente de onde seja. A gratidão nos ajudaria a celebrar a importância da relação, sem envenenar as novas possibilidades que o vento da vida me apresenta.