• O Paradoxo do Amor: Infinito na Essência, Limitado na Atenção

    352/2024 - Prioridades do Coração
    352 - 2024 (17/12/2024)
    Mensagem

    Tão poderoso é o amor, que pequenas parcelas dele já são suficientes para transformar a tristeza em alegria, a ignorância em conhecimento, o medo em segurança, o ódio em fraternidade.
    +352-014
    muita paz

    Reflexão

    Algumas questões cruzaram minha mente inquieta enquanto eu meditava sobre a proposição. Algumas, como a definição do Amor, são alvos frequentes no Acordei Inspirado, outras nascem na originalidade e na surpresa da proposição de hoje. 

    Eu destacaria duas questões. A primeira delas é a possibilidade de fracionamento do amor e a outra é o jogo estabelecido entre Alegria, Ignorância e Medo com suas contrapartes Alegria, Conhecimento e Fraternidade.

    Será possível quantificar o amor? Em caso positivo, o que acontece quando a cota de amor que suportamos é ultrapassada? Podemos viver com amor aquém da cota que suportamos? 

    Seria possível entregarmos um amor menor do que a nossa capacidade amorosa?

    Confesso que não tenho respostas a estas perguntas, mas, de alguma forma, elas nos atravessam. Prefiro acreditar que confundimos o amor com o ato de amar. Mas talvez seja bom explicar melhor esta distinção.

    Compreendendo a Dinâmica do Amor e da Atenção

    Acho que todos nós temos uma cota tão grande de amor em nós que podemos pensar o amor como algo infinito e inesgotável. Defendo a ideia de que todas as nossas relações com o universo e conosco refletem, de alguma forma, este amor, que nos preenche e que nos impõe o ato de amar como ato existencial essencial, embora nem sempre consciente e intencional. O amor é a raiz de nosso ser, a assinatura sagrada do Divino em nós.

    Mas desconhecemos nosso verdadeiro potencial e as possibilidades relacionais com o universo que ele nos revela. Plenos de amor, não sabemos amar.

    Desconhecemos a nós mesmos e ao mundo. Vivemos em uma dialética simplificada da realidade que nos reduz a expressões relacionais através da matéria dirigida para o atendimento de funções específicas.

    Nos vemos ocupando lugares no mundo e tendo a possibilidade de desempenhar papéis neste mundo. Reconhecemos a pátria e os compatriotas, o time de futebol e os torcedores, a família e os pais e filhos. 

    Diante do lugar que ocupamos no mundo, reconhecemos também papeis opositores. Nascem os inimigos da pátria, que são patriotas de outras pátrias; os rivais, que torcem para outros times; a namorada dos filhos que reduz a atenção deles a nós; o patrão que tumultua a vida de nossos pais dando-lhes muito trabalho e pouco dinheiro, etc. Neste jogo de papéis, por amor, aprendemos a lutar contra os opositores para maximizar determinados potenciais relacionais. 

    Mas não são apenas os opositores que atrapalham o nosso movimento relacional. Nós desempenhamos simultaneamente vários papéis em qualquer momento de nossas vidas. Pertenço a uma nação, tenho um time de futebol, tenho pais e sou pai, apenas para manter a coerência do exemplo desenvolvido. 

    Curiosamente, também me relaciono com pessoas de outras nações e de outros times. Tenho namorada pertencente a outras famílias e requisito tempo dela, que talvez reflita na redução do tempo relacional dela com os pais...

    Em todos os momentos de minha história sou amante e agressor, amado e odiado. Preciso priorizar papéis e sou questionado pelo outro ao realizar tal priorização.

    Digo isso para pensar sobre o fracionamento do meu amor...

    Acho que o que fracionamos não é o amor, mas a atenção que damos através do ato de amar.

    Aquelas relações que recebem pouco amor, ou até mesmo indiferença, raiva e ódio devido à dialética relacional que prioriza outras relações, responderão de maneira reativa, requisitando melhoria relacional.

    Queremos ser vistos, reconhecidos e estimados. Queremos nos sentir amados. Temos dificuldade quando não estamos no centro das atenções relacionais do outro, mas talvez nem percebamos que nós mesmos tiramos este outro de nosso foco de atenção ao fazermos nossas priorizações relacionais diante da escassez de tempo e de vitalidade. 

    É possível que o afastamento do outro seja uma resposta deste outro à baixa prioridade que damos à relação com ele. Mas também é possível que este outro, assim como nós, esteja priorizando aspectos relacionais em função de suas necessidades. 

    No momento de um torneio de futebol, a relação com o time pode receber mais prioridade do que a relação com a pátria, por exemplo. 

    Diante da necessidade de engajamento romântico e/ou sexual, talvez despriorizemos a relação com os pais para fortalecer a relação com possíveis parceiros.

    Não estaríamos fracionando o amor, mas dirigindo o potencial amoroso conforme nossos interesses e necessidades. Reconhecer isso talvez nos liberte das tristezas que nascem pela escolha relacional do outro, libertando-o de nossas cobranças amorosas e abrindo campos para vivermos com mais alegria. 

    O Paradoxo do Amor e da Atenção