Ainda na esteira de vibrações, sentimentos, reflexões e reverberações da reflexão 234/2024, fiquei pensando se a compra não seria vista, muitas vezes, como um ato de conquista, onde acabamos negociando uma troca de valores... 

Idealmente esta troca funcionaria para a manutenção do equilíbrio da relação e do sistema relacional da sociedade, sendo justa para a manutenção do equilíbrio na humanidade e para o estabelecimento da paz. 

É claro, entretanto, que esta troca não é, necessariamente justa, podendo estar repleta de jogos de força, de imposição, de submissão, de ganância e de desatenção; o que nos leva à reflexão seguinte, a 235/2024.

A ideia proposta, da verdadeira amizade, resgatou em minha mente a utopia da amizade como um encontro de almas em que damos sem esperar contrapartida, pela simples estima pelo outro. Talvez este seja o conceito contido no pensamento de "amizade pura que não espera nada em troca".

Mas acredito que a humanidade ainda não consegue viver esta utopia chamada amizade pura, que talvez nem seja exequível em contextos de finitude e de escassez. Me parece que, em nossas relações, sempre há expectativas quando aplicamos energia para ir em direção ao outro, mesmo que seja a expectativa de ver o outro feliz, em condição de bem-estar. 

Penso que negociamos atenção e reciprocidade o tempo todo em nossas relações. Talvez possamos afirmar, de maneira geral, que amizades se baseiam em reciprocidade e em reconhecimento da estima devotada, que poderiam ser traduzidos pelas ideias de gratidão e de continuidade relacional. 

Em condições extremas nas amizades, quando há muita carência da parte de quem dá e muita dificuldade de reconhecimento por parte de quem recebe, vemos conflitos e mapeamos sentimentos de raiva e de indignação nascerem. Nestes eventos, a ingratidão pode expressar, frequentemente, o desejo de reciprocidade e a incapacidade de reconhecimento dos envolvidos. Estaríamos tentando comprar, sem sucesso, o que nos falta?

Por tudo isso, arrisco dizer, no limite das utopias de paz e de felicidade em relação, que a amizade pura nasce quando duas pessoas são capazes de se amarem reciprocamente e decidem investir na continuidade de trocas desinteressadas. Ou seja, a amizade pura nasce quando alguém dá amor sem esperar nada em troca, mas também recebe amor do outro, estabelecendo reciprocidade ao invés de troca.