Estagnar é perder a fluidez, não circular, não correr. Em sua origem etimológica no latim stagno (-are), carrega a ideia de formar grande depósito de água, formar lago, estar submerso, submergir.

Hoje formamos uma imagem ruim em nossas mentes quando pensamos em estagnação. Lembramos de pântanos, poças de água suja, risco à saúde, mau cheiro, podridão, etc.

Talvez carreguemos em nossos corações ideias de fluidez, mudança e transformação como o regime existencial ideal, embora sejamos conservadores por natureza e lutemos contra as mudanças por vê-las como ameaça ou dispêndios energéticos.

Será que tentamos nos convencer sobre a necessidade de mudança?

Precisamos de grandes depósitos de água para sobreviver, pântanos cumprem importante papel no ciclo da vida! Talvez a estagnação seja uma contingência necessária à vida em vários contextos.

A natureza estabelece um equilíbrio dinâmico que pode alternar entre estados de escassez e abundância. A água acumulada permite o nascimento de oásis no deserto, os manguezais são essenciais para a vida marinha e terrestre, grandes lagos regulam a temperatura do ambiente, açudes garantem a sobrevivência nos períodos de estiagem e seca. Talvez a acumulação cumpra um papel importante na regulação da vida.

Mas também acredito que não podemos dar conta de fluidez absoluta ocorrendo simultaneamente em todos os contextos de nossas vidas. Precisamos de referenciais contra os quais estabelecemos nossas comparações e realizamos nossos aprendizados. Algo estagnado em relação a coisas que mudam pode nos ajudar a avaliarmos nosso progresso e identificarmos riscos em potencial.

Enquanto viajamos, talvez precisemos ter a certeza de quem somos internamente para garantir saúde psíquica frente aos novos ambientes vivenciados. 

Se reformamos nossos corações, precisaremos provavelmente de referenciais externos para avaliar as mudanças e as necessidades de ajustes. 

Transformações consomem recursos, dificultam avaliações e geram riscos. Estagnados, economizamos energias, reunimos potenciais, avaliamos contextos e nos preparamos para os ciclos de transformação e mudança. 

Em última análise, pode não ser problemático estacionar, estagnar, estabilizar e acumular em alguns campos de nossa vida enquanto agitamos outros. Talvez a energia que precisamos para a mudança apareça em nossos sistemas através da energia que economizamos em campos de estagnação.

Defendo a ideia de que existir demanda equilíbrio dinâmico na vida, requer movimentos e estagnações ocorrendo simultaneamente entre as áreas da vida para que possamos viver bem, com saúde.