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    277/2024 - Respirar
    277 - 2024 (03/10/2024)
    Mensagem

    Respeite as ligações e as separações, sem estranheza ou censura, de vez que você não lhes conhece as razões e processos de origem.
    +277-089
    muita paz

    Reflexão

    Lembrei de uma reflexão antiga que postei no Acordei Inspirado sobre tolerância, respeito e aceitação. Ela voltou à mente após a leitura da recomendação de hoje.

    Tenho buscado trabalhar muito em meu coração a ideia de aceitação, pois entendi recentemente que respeitar é apenas um dos passos necessários para vivermos em uma cultura de paz que promova a vida.

    Será que somos capazes de aceitar que há outras formas de sentir e agir sobre a vida?

    Frequentemente penso na facilidade com que nossa cultura cria normas, diretrizes, leis e tradições.

    Não quero dizer que estes estabelecimentos sejam ruins, pelo contrário. Compreendo a importância deles para o ordenamento da vida em sociedade, para a redução de custos e de riscos, para a liberação de nossas mentes e para a viabilização de grandes construções que envolvem muitas pessoas.

    Entretanto, junto à regulação dos atos da vida, construímos resistências ao novo e ao diferente que nos obriga naturalmente a suspendermos ou a reavaliarmos as regulações estabelecidas. 

    Eu diria que nossa busca por estabilidade, consistência e equilíbrio pode até mesmo nos tornar intolerantes se não tivermos atenção.

    Facilmente acionamos mecanismos inconscientes de autodefesa, negamos oportunidades para o que é diferente, geramos constrangimentos aos inovadores e confrontamos o diferente como adverso e ameaça.

    Respeitar, segundo minha proposição inicial, seria manter a certeza de que estamos certos, mas criarmos espaços seguros para que o outro realize suas construções. Mantemos o domínio da situação, evitamos contato e não dialogamos com o diferente.

    Talvez haja medo de que o contato com o diferente nos modifique e nos coloque em risco. 

    Penso que o respeito seja um caminho incompleto de construção relacional se queremos estabelecer um movimento relacional orgânico em que dialogamos e crescemos juntos, convivendo com a diferença, influenciados por estas diferenças e influenciando-as.

    Se toleramos ou aceitamos, teremos a tendência de querer ajustar o comportamento social diferente do nosso para normatizá-lo ao que julgamos o correto, mesmo após conhecermos as razões e os processos que deram origem a tais comportamentos.

    Mas a definição de vida implica em pensar sobre atributos como diversidade, multiplicidade e até mesmo divergência. 

    Aceitar que o mais forte, influente e poderoso detém as rédeas de sua própria vida, mas que não é capaz de definir a única narrativa possível para as vidas é o desafio humano contemporâneo.

    Reduzir a importância do ego, desprender-se dos movimentos de massa, perceber as individualidades com suas múltiplas narrativas válidas e negociar estruturas relacionais em sociedade para que todos possam ter mais autonomia relacional seria uma forma de definir aceitação para dialogar com a recomendação proposta.

    Quando conhecemos os processos de vida de outras pessoas e geramos entendimento sobre as razões alheias, nos habilitamos a pensar sobre nossos próprios processos e razões. Entretanto, podemos não estar abertos à mudança, ao diálogo e à transformação.

    Presos ao que somos, tememos o novo e o diferente que nos conduzirão a transformações inimagináveis. 

    Frequentemente preferimos as dores conhecidas aos desconhecimentos que poderão trazer alívios e oportunidades sob o preço de esforços contínuos de observação, formulação e transformação.

    Por tudo isso, eu diria que tolerar e respeitar os diferentes modelos relacionais, conhecendo ou não as suas origens, é obrigação imposta pela cultura planetária atual. Aceitá-los é opcional, mas abre portas para olharmos para nós mesmos, para o nosso crescimento como pessoas.