*Agarrar-se a familiares de modo exagerado gera desajustes e doenças psicológicas das mais diversas características *
+154-211
muita paz
Acredito que agarar-se a qualquer coisa, assim como desprender-se de tudo são extremos que fecham algumas portas e abrem outras em nossas vidas. Nada é 100% positivo ou 100% negativo em um mundo complexo como o nosso em que estamos interconectados e interdependentes uns dos outros.
Quando nos apegamos a algo ou a alguém surgem possibilidades de realização que nos permitem vivermos experiências específicas mas que cobram um preço, assim como quaisquer outras escolhas.
Acredito que ao escolhermos ficarmos agarrados a uma pessoa fechamos a porta das possibilidades de estar em contato com a diversidade humana. Nos especializamos em uma relação e nos fechamos para outras.
Viver esta relação com intensidade talvez nos permita experimentar certa segurança e talvez nos ajude a dar passos importantes em determinados momentos de nossos aprendizados sobre a humanidade.
Por outro lado, talvez este tipo de relação intensa e especializada dificulte o convívio com outras pessoas nos tornando menos sociáveis e mais emocionalmente dependentes de uma relação.
Gosto de pensar que há momentos especiais na vida em que precisamos destas relações de apego e dependência. Podemos ver a relação dos casais recém formados, o vínculo entre mãe e filho, o início das relações entre mestre e aprendiz como exemplos concretos onde este apego produz uma dinâmica fortalecedora e proporciona o crescimento.
Mas, de um modo geral, se estamos inseridos em um contexto de diversidade, com tantas relações naturalmente estabelecidas, talvez o universo esteja propondo relações mais abertas, com menos apego e com mais pluralidade na maior parte do tempo.
Assim, ao buscarmos a diversidade e a pluralidade talvez estejamos nos capacitando para promover mais liberdade e autonomia para nós mesmos e para aqueles com quem convivemos.
Talvez possamos ter acesso a maior diversidade de experiências e de aprendizados tornando nossas vidas mais ricas e plenas.
Acho que estes ambientes de pouca diversidade podem acabar favorecendo processos de adoecimento a longo prazo; um preço a se pago se queremos ou sentimos que precisamos viver com intensidade uma pequena parcela da diversidade que nos engloba negando todas as demais dimensões da vida.
Talvez seja importante nos perguntarmos sobre a motivação para relações de intensidade com uma pessoa em específico.
Estaremos nos sentindo inseguros?
De que temos medo?
De que estamos fugindo?
Por que estamos buscando refúgio no outro?
Por que nos sentimos desamparados?
Será que não nos sentimos dignos ou merecedores de outras relações?
O que estamos evitando?
Por que não nos sentimos capazes de nos responsabilizarmos por nós mesmos?
Estas são algumas perguntas que costummo me fazer sempre que sinto mais necessidade de estar com uma pessoa especificamente.
Em alguns momentos de minha vida até agora me surpreendi com as respostas.
Descobri que amo muito algumas pessoas e que desejo estar mais tempo com elas. São pessoas que me deixam alegre e que fazem com que eu me sinta amado.
Mas descobri também que posso ser mais livre com certas pessoas, que não preciso me policiar tanto quanto ao que digo e faço; o que me ajudou a descobrir certa insegurança e medo do julgamento alheio.
Descobri também que as vezes a vida fica mais fácil ao lado de certas pessoas porque não preciso me responsabilizar por muitas decisões. Neste trajeto de vida conheci algumas pessoas que são tomadores compulsivas de decisões que precisam tanto decidir que acabam invadindo meu espaço e decidindo coisas por mim permitindo que eu siga em frente sem me responsabilizar tanto quanto deveria.
Aprendi também que muitas vezes tentamos fugir das responsabilidades de nossas escolhas delegando ao outro as decisões, a realização e até mesmo o ônus do que acontecer errado; motivos suficientemente fortes para que pessoas me queiram em suas vidas como tomadores de decisão!
Enfim, acho que podemos aprender muito a partir de nossas relações de dependência.
Acredito que agarar-se a qualquer coisa, assim como desprender-se de tudo são extremos que fecham algumas portas e abrem outras em nossas vidas. Nada é 100% positivo ou 100% negativo em um mundo complexo como o nosso em que estamos interconectados e interdependentes uns dos outros.
Quando nos apegamos a algo ou a alguém surgem possibilidades de realização que nos permitem vivermos experiências específicas mas que cobram um preço, assim como quaisquer outras escolhas.