361/2022

Amor. 

Um conceito poderoso e singular para a humanidade; uma espécie de denominador comum sobre o qual todos nós nos sentimos acolhidos e sustentados, onde encontramos abrigos contra as tempestades, de onde aferimos esperança para superar as dores, mas também um campo florido onde celebramos a vida.

Mas, por ser um conceito tão amplo, talvez o amor tenha se tornado uma quimera na modernidade que carece de apostos, de vocativos, de qualificadores e de adjuntos para que o percebamos aplicado...

Foi tomado pelas amantes, pelos pais, pelos filhos, pelos religiosos, pelos políticos, pelos guerreiros, pelos profissionais em geral, pelos cultuadores de hobbies, pelos estudantes, etc. Popularizou-se...

Transfigurado sob a luz de quem o professa, é também argumento para brigas, para guerras, para conflitos, para confrontos e para desvios éticos perigosos na humanidade.

Talvez Jesus, o amor e nós estejamos todos inscritos na mesma realidade desde os primeiros tempos da criação, quando esta se fez por um ato dedicado do criador que colocou em suas criações a própria assinatura e determinou o funcionamento de tudo de maneira harmônica mas misteriosa para os desconhecedores como nós.

Gosto de pensar nisso porque a ideia de sentimento direcionado, e em específico do amor direcionado, é algo complicado de assimilar. Talvez o ponto primordial desta questão, para mim, não seja o amor direcionado e sim como ele é direcionado e como o destino do direcionamento o percebe.

Por muitos anos de nossas vidas temos dificuldades de perceber a condução rígida dos pais como um ato de amor. Só a experiência no tempo nos ajuda a compreender a necessidade dos limites claros que nos desafiam a crescer e que nos impulsionam à frente.

A necessidade de vencer a força da gravidade mantém nossa musculatura forte e garante longevidade para nossos corpos, embora exija grande dispêndio energético. Mas sem este estímulo amoroso do criador viveríamos menos e teríamos diversos desafios de saúde. Ainda hoje considera-se perigoso viver no espaço por longos períodos devido à falta de gravidade e acabamos criando estímulos artificiais para compensar a sua falta e garantir a saúde dos viajantes espaciais. 

Mas se a gravidade fosse mais vigorosa do que a que experimentamos, nossas vidas seriam comprometidas. Temos exemplo destas complicações nos mergulhos de profundidade que dificultam até mesmo a absorção do oxigênio pelos pulmões. Talvez haja também um exercício necessário de dosagem deste amor direcionado e, de nossa parte, de desenvolvimento de uma escala de amor aplicado...

Embora o amor paternal e o maternal sejam amplos por todos os filhos, percebemos tratamento diferenciado exatamente porque as necessidades dos filhos são diferenciadas. Os pais, percebendo a necessidade desta distinção para facilitar o ingresso dos filhos na vida adulta de forma saudável e próspera, amam de formas diferentes e agem com intensidades diferentes em relação a cada filho ao longo do tempo...

Pelos relatos bíblicos, o próprio Jesus não curou a todos os que o que se cercaram dele. Acredito que, embora amasse a todos, a aplicação do amor e a intensidade com que era disponibilizado se dava de maneiras diferentes em cada caso; em conformidade com os potenciais, com as necessidades e com o empenho de cada pessoa. 

Hoje sinto que pensar em amor é pensar em conexão profunda com a criação e, consequentemente, com o criador. Talvez seja uma questão de amor dirigido e, portanto, uma questão de amar e não de amor. Se amamos com toda a intensidade que podemos, nós nos conectamos com os repositórios infinitos de recursos da criação no limite máximo de nossos potenciais e estabelecemos um circuito virtuoso em que percebemos ainda melhor o amor do criador por nós e conseguimos amar ainda mais.

Em um processo que tende ao infinito, nos encantamos cada vez mais com a assinatura sagrada que reverbera em nós e nos desdobramos em atos de gratidão, nos disponibilizando a conexões cada vez mais profundas com a criação.

No limite do infinito, talvez reconheçamos nossa pequenez diante do todo, o real tamanho de nossa individualidade e, consequentemente percebamos que é o criador que opera amorosamente através de nós, como Jesus anunciou diversas vezes em seus ensinamentos. Neste limite talvez nos confundamos com o todo para quem nos vê à distância, nas fases iniciais do processo de aprendizado sobre o amor aplicado...

De qualquer forma, se há dificuldades, provavelmente há necessidade de aprendizado e de desenvolvimento por parte daquele que passa pela dificuldade. Eu arriscaria dizer que, se há dificuldade, há a possibilidade de aprofundamento das conexões com o criador, algo que poderá até ser celebrado quando amadurecermos mais espiritualmente.

Por hora, pensar no assunto nos fortalece a esperança causando fé. Nutre nosso sentimento de pertencimento e nos ajuda a seguirmos em frente porque nos sentimos acolhidos diante das dificuldades.

Amor. 

Um conceito poderoso e singular para a humanidade; uma espécie de denominador comum sobre o qual todos nós nos sentimos acolhidos e sustentados, onde encontramos abrigos contra as tempestades, de onde aferimos esperança para superar as dores, mas também um campo florido onde celebramos a vida.

Mas, por ser um conceito tão amplo, talvez o amor tenha se tornado uma quimera na modernidade que carece de apostos, de vocativos, de qualificadores e de adjuntos para que o percebamos aplicado...