Quando poder do amor superar o amor pelo poder, o mundo conhecerá a paz
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muita paz
Um jogo de palavras muito interessante que revela facetas dos múltiplos conceitos que atribuímos à palavra amor. Talvez por isso seja tão difícil conversar sobre amor...
Temos uma única palavra que fala das diversas formas e aspectos de devotarmos atenção e apreço.
Se considerarmos a definição de amor apresentada por Jesus de Nazaré, conforme narrada no novo testamento católico, amor fala de uma postura de cuidado de si e do outro que proporciona oportunidades de crescimento através da construção da autonomia e da responsabilidade, algo poderoso, mas que fala na direção oposta ao exercício do poder que tende a sequestrar a autonomia e aprisionar as pessoas.
Quando pensamos em paz parece haver um consenso quanto à definição. Trata da ausência de conflitos e, na maioria das vezes, caracteriza-se pelo respeito mútuo estabelecido pelos indivíduos de uma sociedade. Penso que nesta visão não exista espaço para o poder que suprime e sequestra as liberdades individuais. Pelo contrário, parece que o apreço que temos pelo poder impede que a paz se instaure em nossas sociedades.
Mas talvez seja necessário termos atenção quanto aos usos e valores atribuídos à palavra paz. Recordo-me de uma política de segurança pública estabelecida no Estado do Rio de Janeiro entre os anos 2010 e 2020. As Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs como ficaram conhecidas, eram estabelecidas com o apoio de tanques, carros blindados, efetivos de batalhões de choque e pouca ou quase nenhuma atenção às liberdades.
Vemos de forma cada vez mais frequente guerras e conflitos para estabelecer a paz, ou, como prefiro pensar, o sequestro de liberdades e o desrespeito às autonomias para impor certa visão de mundo que estabelece poder inquestionável a certas pessoas sobre outras.
Para que o poder do amor se estabeleça faz-se necessário que elaboremos de forma clara os conceitos de amor, de paz e de poder. Mas apenas esta elaboração não é suficiente, é um imperativo individual buscarmos identificar onde nos falta autonomia e em que contextos estamos suprimindo autonomias.
Muitas vezes nos impomos sobre o outro declarando que este outro é incapaz e escondendo que nós nos julgamos mais capazes do que o outro. Assumimos as rédeas da vida das pessoas e desejamos conduzi-las a contextos de aparente paz, que na realidade são contextos de conforto e não contrariedade de nossos desejos e visões de mundo.
O poder do amor anula a nossa fruição soberana sobre os destinos das vidas à nossa volta e reconhece a nossa responsabilidade perante nós mesmos e a possibilidade de apoiar o outro em sua trajetória singular e muitas vezes diferente da nossa.
O estabelecimento da verdadeira paz a partir da superação do amor pelo poder através do poder do amor e decisão individual diária feita no coletivo em que estamos inseridos. Penso que a paz se estabelecerá quando começarmos a pensar no poder do amor nas relações imediatas, aquelas em que temos grande visibilidade e influência.
Acreditar no outro, investir na história do outro e aceitar as diferenças são posturas que precisam estar cada vez mais presentes em nossas práticas sociais cotidianas.
Mas precisamos ter atenção para um fato importante: A paz nasce em nós. Quando formos capazes de perceber o valor que temos e que independe da comparação com o outro. Assim seremos mais capazes de libertar o outro de nossas imposições, pois não nos sentiremos dependentes da aprovação externa. Nos veremos como irmãos e não como senhores e servos.
Um jogo de palavras muito interessante que revela facetas dos múltiplos conceitos que atribuímos à palavra amor. Talvez por isso seja tão difícil conversar sobre amor...
Temos uma única palavra que fala das diversas formas e aspectos de devotarmos atenção e apreço.