*Amando, o ser é capaz de suplicar auxílio para o outro; é capaz de não medir esforços para ser instrumento de bençãos a quem quer que seja*.
*+023-343*
*muita paz*
Suplicare, que em latim, conforme uma busca rápida em mecanismos de busca na internet, sugere dobrar-se ou inclinar-se perante alguém a quem se pedia algo.
Dobrar-se diante de alguém a quem pedimos algo pode ser um ato de reconhecimento do tamanho, da força e do poder deste alguém em relação ao suplicante.
Fiquei pensando que talvez este tamanho, autoridade e força não sejam absolutos, mas uma medida em relação a quem suplica, o que talvez possa ser visto como um ato de reconhecimento da pequenez e da incapacidade do suplicante para atingir determinado objetivo, mas também o reconhecimento de que o suplicante assume-se não capaz ou parcialmente capaz.
O suplicante estaria renunciando à sua identidade egoica e admitindo que há algo maior que ele, pelo menos naquele momento da urgência de resolução.
No caso de nossa citação, portanto, suplicar pelo outro pode caracterizar um ato autêntico de reconhecimento da importância daquele por quem se suplica. Importância que excede a capacidade existencial do suplicante a ponto de renunciar a si em favor do outro diante de uma autoridade máxima que tem a potência de causar nossa extinção, mas também de salvar este outro por quem pedimos.
Mas será que realmente renunciamos ao nosso ego neste momento? Talvez estejamos reconhecendo o enorme valor dele como moeda de troca em uma economia feroz daquela potência diante da qual suplicamos, que talvez não diferencie duas criaturas pequenas e o vínculo entre elas. Assumimos a igualdade de valores de nossa existência em relação àquele por quem pedimos.
Acredito que poderíamos tecer reflexões sociológicas, psicológicas, financeiras, filosóficas e religiosas muito interessantes a respeito desta simples proposição, que envolve a anulação voluntária em favor do outro, mas o que me salta ao coração neste momento é o fato de percebermos esta inteligência superior a que chamamos de Deus como uma inteligência passional e volúvel, talvez até mesmo caprichosa.
O que teria colocado este outro em uma condição muito desconfortável?
O que nos faz crer que podemos negociar com Deus sobre as necessidades do outro?
O que nos faz pensar que somos grandes e potentes o suficiente para barganhar e dissuadir o criador?
Será que estamos vendo o outro como um injustiçado? Ou queremos assumir o lugar de Deus neste momento e decidir quais são as melhores ações?
Sim, eu sei que tudo o que disse incomoda bastante. Eu mesmo precisei de um tempo para me atrever a reconhecer que ainda sou muito arrogante e prepotente no que diz respeito ao reconhecimento sincero de meu tamanho pequeno em relação a algo muito maior que não consigo compreender...
Sinto que a solução moderna, humana e mais próxima do amar ao próximo como a mim mesmo proposta por Jesus e assumida pelo ocidente como regra de ouro passa por outro caminho.
Talvez não me caiba prover o livramento para o outro. O sacrifício pode ser uma via imatura de nossa expressão de humanidade. Minha razão sugere a adoção do sacro ofício.
"Ver cada um conforme suas obras", conforme Jeremias 17:10, me diz que não tenho o poder de propor uma troca em favor do outro. Cada relação com o criador é singular e diz respeito a este diálogo exclusivo do ser com seu criador. Talvez eu não tenha o direito de intervir nesta conversa.
Entretanto, tenho a oportunidade de suavizar a dor do outro, dando-lhe a oportunidade de ressignificá-la e até mesmo de anular o sofrimento que ele cria a partir da dor que o atinge.
A misericórdia, o amor pelo outro, se faria presente quando ajudo este outro a passar pelo que precisa passar, sem buscar assumir seu lugar. Envidar esforços de sustentação, trazer palavras de esperança, de consolo e de estímulo, evitar julgamentos e condenações...
Caminhos que revelam a verdadeira rendição de meu ego! Permito que o outro seja conforme seus valores e necessidades, mas não deixo de dizer a ele que é muito amado e que desejo ajudá-lo em sua jornada, embora não possa assumir a dor dele.
Por isso, acredito que estar disposto a suplicar pelo outro representa um grande passo na construção do amor e do reconhecimento da existência de algo superior a nós, mas não representa o caminho completo para a construção da paz e da felicidade através das relações.
Será preciso amar a nós mesmos com amplitude para podermos amar ao outro com compreensão e reconhecimento deste outro que é singular, autêntico e autônomo em uma conversa com algo superior que só ele pode ver e dar significado.
Por outro lado, consigo perceber que também sou singular, autêntico e autônomo em uma conversa com algo superior que só eu posso ver e dar significado.
Apresso-me a dizer, portanto, que não desejo o sacrifício do outro a meu favor, mas o sacro ofício. Ao invés de súplicas e rendições, prefiro as palavras de apoio e a presença constante, expressões do sagrado através deste outro que muito me ama e ampara, em referência ao salmo 23.
"Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem"
Não busco livramentos, mas apoio para atravessar as sombras que me tornarão mais capaz de dialogar livremente com o criador.
Suplicare, que em latim, conforme uma busca rápida em mecanismos de busca na internet, sugere dobrar-se ou inclinar-se perante alguém a quem se pedia algo.
Dobrar-se diante de alguém a quem pedimos algo pode ser um ato de reconhecimento do tamanho, da força e do poder deste alguém em relação ao suplicante.