TODOS NÓS PRECISAMOS GOVERNAR NOSSA VIDA, MAS A ÚNICA MANEIRA DE FAZÊ-LO CONSISTE EM AMAR E AMAR-SE.
MUITA PAZ
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Em um passado muito recente da história do ser humano talvez estivéssemos convictos de que a maior parte das pessoas devessem ser tuteladas por forças superiores; políticas, morais ou religiosas, que poderiam conduzir a humanidade a um status mais equilibrado e próspero.
Em nome desta ideia sequestramos a autonomia de parcelas inteiras de nações, aniquilamos a força interna de milhares de indivíduos capazes de se gerirem com criatividade e potência , realizamos guerras, escravizamos pessoas, instauramos governos, destituímos governantes, criamos religiões, escrevemos conhecimentos e estabelecemos cultura.
Penso que este quadro, de certa forma, vem desde a antiguidade quando éramos absolutamente ignorantes sobre as leis de funcionamento do universo e atribuíamos a força de governo da vida aos Deuses que residiam sobre nós e de nós se serviam como instrumentos para a realização de seus caprichos, desejos e desígnios.
Muitas vezes, escondidos sob a máscara de representantes destas forças da naturezas, encontramos a orquestração de homens e mulheres que tinham por objetivo exercer o poder sobre grupamentos humanos para obter vantagens pessoais sobre o coletivo e intentar seus propósitos de vida.
Neste período longo de nossa humanidade fomos capazes de criar obras humanas incríveis através das quais desenvolvemos conhecimentos importantes sobre a natureza e sobre a própria humanidade. A civilização se desenvolveu e com ela o senso de individualidade e a percepção de que as forças de outrora talvez fossem apenas disfarces usados para conduzir as histórias coletivas da humanidade através da ignorância.
É fato que somos governados pelos automatismos complexos da natureza e que muitas filosofias e religiões são capazes de ver inteligência, propósito e poder sobre-humanos na articulação deste governo.
Também é fato concreto que o conhecimento adquirido ao longo da história humana sobre os automatismos naturais estão nos possibilitando a construção de enorme liberdade individual que nos leva a questionarmos os governos humanos que conduzem as forças coletivas e as narrativas humanas que estabelecem poderes divinos sobrenaturais..
Vemos hoje o despertar das individualidades e a valorização das expressões singulares sobre as coletivas. Nossos atos de criação exigem cada vez mais a convergência de vontades singulares que se agregam espontaneamente em favor da concretização de planos coletivos de superação das complexidades da natureza.
A atribuição de crédito tornou-se algo cada vez mais importante em uma sociedade dinâmica onde as singularidades estão a serviço quando há ganhos e reconhecimento. A ideia de nação, a possibilidade de anulação do indivíduo em favor de uma causa maior e discursos como a vontade de Deus já não surtem o mesmo efeito sobre os indivíduos que buscam reconhecimento na coletividade através de sua atuação direcionada e com propósito.
Parece que os princípios individuais estão sobrepostos aos coletivos e que a sociedade hoje é um acordo social de convivência conveniente onde os esforços estão reunidos enquanto há uma convergência momentânea de interesses e propósitos que ofereça uma justa partilha dos resultados obtidos.
Recentemente definimos que o indivíduo deve responsabilizar-se pelo seu próprio destino. Ele é responsável pelo emprego de suas potências e deve governá-las com sabedoria e prudência para garantir uma vida saudável e plena até o final de sua jornada.
Se estabelece aí, a meu ver, um dos grandes paradoxos modernos da humanidade. Desaprendemos a autonomia e criamos um coletivo que espera que lhe seja dito o que deve ser feito. Mas cobramos do individuo uma postura autônoma, inovadora e criativa perante a vida.
Este tempo chave para a humanidade nos convida a resgatarmos a ética e o desejo individual e coletivo de estabelecermos o melhor para nós mesmos e para aqueles que estão próximos de nós.
No passado tivemos o espírito individual sequestrado pela falta de conhecimentos sobre o mundo. No presente, encantados pelo poder que conquistamos de construção das narrativas individuais, talvez tenhamos esquecido o coletivo e a importância de seguimos juntos, convergindo esforços em favor de algo maior.
Os ecos do amor presente em tudo clamam em nossas intuições revelando a necessidade de gerarmos bem-estar, serenidade e prosperidade. Movidos por esta força intuitiva nós seguimos experimentando modelos de organização social e formas de ação individual para atingirmos patamares coletivos de humanidade que sejam mais plenos, estáveis e longevos.
Nesta estrada acredito que a autonomia, o autogoverno, seja imprescindível mas penso que ele deva andar em paralelo com os esforços de geração de prosperidade e de bem estar que abracem também os parceiros de viagem que trilham conosco esta estrada civilizatória.
A autonomia e a ação com propósito amoroso são habilidades esperadas pelo entendimento individual de muitos, o que gera uma força de visão coletiva.
É importante, entretanto, reconhecermos que estas habilidades estão em desenvolvimento e que, portanto, muitos de nós carecemos de instruções básicas para implementá-las nas questões cotidianas da vida, mas que isto não significa que devamos assumir o governo de outras pessoas.
Viver de maneira autônoma e amorosa no momento talvez signifique definirmos uma jornada intensa de autoconhecimento e de desvelamento de nossos próprios potenciais e anseios enquanto contribuímos com as jornadas de nossos pares.
Não se trata de uma chave a ser virada para darmos partida em um motor mas de um projeto longo de humanidade em que também precisaremos reconhecer e respeitar o momento vivido por cada ser humano que coabita conosco no planeta com variados estágios de autonomia e de capacidade de amor.
Em um passado muito recente da história do ser humano talvez estivéssemos convictos de que a maior parte das pessoas devessem ser tuteladas por forças superiores; políticas, morais ou religiosas, que poderiam conduzir a humanidade a um status mais equilibrado e próspero.