070/2023 - Canais para amar

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070/2023 - Canais para amar
070/2023 - Canais para amar
dia do ano
70
Canais para amar
mensagem

🎼quem não tem amor🎼
🎼nada tem pra dá🎼
+070-295
muita paz

reflexão

Eu acho que todos nós temos amor para dar. Talvez não atinjamos a expectativa do outro que convive conosco, talvez não consigamos dialogar através dos mesmos modelos de expressão amorosa.

Eu me lembro de uma poesia que escrevi há algum tempo, tocado pelo relato de uma mãe em uma roda de conversas que tomei parte na comunidade da Rocinha e que confrontou meus conceitos e ideias sobre o uso de violência para a educação.

Fiquei  meditando, e ainda medito a respeito. É possível ser violento e agressivo por amor?

Será que, de alguma forma, o amor está sempre presente nas relações, mesmo quando elas estão adoecidas e os integrantes dela tenham dificuldades de resgatar e apresentar afetos e cuidados?

Na época o relato me tocou profundamente porque falava de um amor enorme por um filho que se expressava de forma bruta e desesperada.

Aquela mãe havia dado à luz a três filhos em um período de 5 anos e lutava com muito empenho para que eles se tornassem homens respeitosos e bem integrados à sociedade. Ela lutava contra as influências de uma sociedade indiferente e violenta que era, e talvez ainda seja, uma tutora formadora de pessoas quebradas.

Aquela roda de conversa tinha o objetivo de compreender melhor as soluções familiares para a educação de filhos e, como era esperado, deu voz às ações violentas que carregavam o intento de educar, mas que também revelavam os traços de uma humanidade que ainda luta para merecer o título de humanidade.

Aquela mãe já havia perdido os dois filhos mais velhos para o crime e ela estava muito comprometida com a condução do mais novo de uma maneira zelosa. Ela queria que pelo menos um dos filhos vivesse muitos anos. Ela queria netos e uma família para continuar a escrever a história que havia começado com os pais dela no nordeste.

O filho mais novo passou a ser alvo de uma tutela cerrada que escrutinava os amigos dele, que controlava horários e que batia para educar.

Como pensar naquela ação materna violenta, opressora e controladora que vinha de uma mãe quebrada pela morte de forma violenta de dois filhos?

Quanta dor, quanto desespero, quantas saudades e frustrações aquela mãe carregaria no peito?

Se eu não tivesse participado daquela roda de conversa, talvez nunca conseguisse compreender aquela mulher dura que falava alto e que batia no único filho que eu conhecia. Talvez eu a tivesse visto como uma pessoa sem amor para dar por não carregar amor em si.

Quantas destas histórias de amores doentes vindos de pessoas quebradas estarão acontecendo à nossa volta? Talvez alguns de nós sejamos protagonistas ou coadjuvantes de histórias como esta.

Olhando para a história familiar de minha mãe, sentindo no rosto a ardência do único tapa que recebi dela a título de ação corretiva, revivendo a dor da vergonha e da humilhação, mas também tocado pelo desespero de quem ama e não conhece outras formas de educação além das expressões violentas, assumi para mim a responsabilidade de pensar o amor e suas expressões.

Hoje entendo que todos nós somos cheios de amor. Ele está inscrito em nós, é a base de tudo o que somos porque estava presente no ato de nossa criação. 

De alguma forma aprendemos a dirigir este amor através do ato de amar. 

Penso que conformamos nossas expressões amorosas às escalas de crenças e de valores que construímos a partir da cultura em que estamos inseridos. E talvez este seja o ponto primordial nesta reflexão. 

Mas será que, sendo criaturas criadas por uma potência soberanamente boa e justa que manifesta o puro amor em tudo o que faz, podemos ser desprovidos de amor?

Sendo portadores de amor e tendo sido educados de maneiras tão distintas, será que partilhamos os mesmos modelos de expressão do amor e as mesmas escalas de valores?

Acredito que a capacidade de amar é limitada. Não acho que nós consigamos amar a tudo e a todos que estão à nossa volta com a mesma potência. Amar, dedicar-se a algo ou alguém exige esforço e provoca desgaste.

Em contrapartida, quando conseguimos perceber o amor que nos é dirigido, então nós nos abastecemos de força e conseguimos amar com menos desgaste.

Talvez as relações em que o amor dado é percebido por nós também funcionem como agentes educativos, além de cumprir o papel de agentes potencializadores do amor que carregamos.

Mas e se não percebermos o amor dirigido a nós? 

Defendo a ideia de que nestes contextos nos sentimos solitários, abandonados e desrespeitados. Nossa capacidade amorosa se reduz e passamos a viver na escassez. Nosso amor vira moeda de troca e só o dedicamos onde temos maior certeza do retorno.

Amedrontados pelo peso da solidão e do abandono, talvez dediquemos toda a nossa capacidade amorosa a nós mesmos e assumamos que não somos amados. 

Talvez o ponto principal seja como reconhecer o amor que existe em nós e os atos de amor que nos atingem. Como podemos aumentar nosso vocabulário amoroso, como podemos ampliar nossa forma de perceber o mundo?

Talvez estejamos dando muito ao outro, mas este outro não consiga compreender o amor que lhe dirigimos.

Talvez sejamos muito amados, mas não consigamos perceber o que recebemos como amor.

Talvez nossas expectativas não sejam correspondidas e talvez não consigamos corresponder às expectativas do outro.

Alinhar expectativas, fortalecer relações, criar um diálogo através do qual possamos nos relacionar com mais afeto e sinceridade podem ser caminhos para reduzirmos as cobranças em relação a nós mesmos e ao outro no que diz respeito ao amor.

Defendo a ideia de que tudo o que precisamos fazer é alinhar nossas relações com a premissa generosa de que todos nós somos repletos de amor e capazes de amar, mas que talvez precisemos aprender a nos relacionarmos de forma mais clara quanto às expressões do amor.
 

reflexão

Eu acho que todos nós temos amor para dar. Talvez não atinjamos a expectativa do outro que convive conosco, talvez não consigamos dialogar através dos mesmos modelos de expressão amorosa.

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