Analise criteriosamente o que tem saído da sua boca.
Caso tenha sido motivo para o choro ou o desânimo, é melhor silenciar apressadamente, pois nenhum ser merece o fel que sai muitas vezes disfarçado de lealdade.
+338-027
muita paz
A partir da proposição, eu fiquei pensando se um rochedo merece os impactos inclementes das ondas do mar ou se um antílope merece ser predado.
Me parece que a dor e a dificuldade que se apresentam em nossas vidas são uma característica natural, inerente de um mundo em constante transformação que age destruindo a fim de construir novas condições, ou que possibilita novas condições ao destruir as antigas.
As rochas consumidas produzem areia e salgam o mar. Os antílopes predados trazem a chance de aprimoramento genético para a própria espécie ao retirar do circuito reprodutivo as criaturas menos aptas.
Acredito que, de forma análoga, todos nós sejamos provocados a transformar realidades quando somos atingidos pelas durezas da existência, inclusive por palavras rudes, duras e inclementes.
Talvez as agruras da vida possam servir como uma provocação natural e importante para revisarmos hábitos, culturas e psiquismos. Por isso não tenho certeza sobre a inexistência ou inutilidade das situações mais duras da vida que nos constrangem e nos provocam por caminhos dolorosos.
De qualquer forma, mesmo sendo provocações que apresentam certa utilidade, há de pensarmos nas consequências destas provocações em relação à origem.
O mar não sai ileso ao chocar-se com o paredão de rochas. Salga-se, vê-se constrangido a fluir em outra direção...
O predador pode ferir-se na caçada, pode ser atacado por presas da manada que tentam defender o integrante...
Desta forma, talvez possamos pensar que o autor de agressões verbais também terá consequências em suas ações. Pode ser execrado e até mesmo expulso de sua comunidade, pode sofrer retaliações dos companheiros da vítima e até ver sua vida sob risco de morte.
Nesta análise criteriosa, precisamos levar em conta que nos integramos através da solidariedade, da fraternidade, da tolerância, da aceitação, do respeito e do amor. Quando fugimos destes valores, naturalmente criamos respostas dolorosas para nós mesmos.
Além disso, embora reconheçamos que os paredões podem se beneficiar da ação rude do mar, que a manada de presas se fortalece a cada membro perdido para um predador, que as vítimas de nossas palavras tornam-se psiquicamente mais fortes se conseguirem superar o trauma; talvez seja importante nos perguntarmos que tipo de sociedade estamos construindo através de nossas palavras.
Que sentimentos estaremos colocando ao nos relacionarmos? Estaremos dando vazão ao entendimento de que a solidariedade, a fraternidade, a tolerância, a aceitação, o respeito e o amor são valores relacionais importantes para nós?
Estaremos facilitando ou dificultando a vida do outro?
Será que pensamos com certa superioridade em relação ao outro, nos colocamos como predadores ou parceiros de manada?
Que tipo de coletivo desejamos constituir ao proferirmos palavras que ferem?
Como queremos ser reconhecidos e integrados à sociedade? Como predadores ou como parceiros solidários que apoiam nos momentos de dolorosos de crise em que se pode crescer?
Agir conforme nossas crenças e valores, de maneira coerente e sincera, nos ajuda a estabelecermos nossa própria identidade e a constituir a identidade coletiva.
Se acredito em valores relacionais que prezam crescimento, segurança e paz, devo proferir palavras coerentes com tais valores.
Se acredito que sou superior, que mereço mais do que os demais e que posso impor minha vontade, a ação coerente poderá ser proferir palavras duras, mas devemos estar atentos para a possibilidade de receberemos tratamento análogo sempre que formos o elo frágil na relação.
Vivendo constantemente em conflito, lutando para nos impormos, poderemos ser confrontados e combatidos, talvez até mesmo sem clemência, pelo coletivo que nos vê como uma ameaça.
A partir da proposição, eu fiquei pensando se um rochedo merece os impactos inclementes das ondas do mar ou se um antílope merece ser predado.
Me parece que a dor e a dificuldade que se apresentam em nossas vidas são uma característica natural, inerente de um mundo em constante transformação que age destruindo a fim de construir novas condições, ou que possibilita novas condições ao destruir as antigas.