074/2024 - Viver com sabedoria

Eu carrego um significado especial para a ideia de humildade. Penso que ela é a capacidade de reconhecer o próprio tamanho diante da vida, sem nos diminuirmos e sem nos sentirmos maiores do que somos, enquanto mantemos nossos sonhos, utopias e esperanças à nossa frente, mesmo que tenham a concretização viável em futuros presentes distantes.

Quando sou capaz de reconhecer minha individualidade e a importância dos papéis que desempenho nas relações, honrando-os, sou humilde. 

Sempre existirão contextos em que servirei, contextos em que serei servido e contextos em que a reciprocidade e a liberdade nos desobrigarão da função de serviço. O sujeito humilde transita de forma coerente pelos contextos que a vida lhe apresenta, sem que isso lhe cause qualquer tipo de dor, de sentimento de inferioridade, de prepotência ou de superioridade. 

Acredito que sempre poderemos fazer algo positivo neste lugar contextual em que as relações ocorrem.

Talvez a vida frustre nossas expectativas, imponha novos contextos e exija que mantenhamos relações difíceis, mas sempre teremos a oportunidade de crescer como sujeitos e de amadurecermos espiritualmente; em qualquer lugar que estejamos. 

Lutar heroicamente para vencer uma adversidade reverbera em meu coração como a não aceitação destas adversidades na condição de determinantes de nossas vidas.

Acomodar-se à dor seria a aceitação da impossibilidade de transformação e a necessidade de seguir em frente a pesar daquilo que dói.

Rebelar-se pode ser a forma que encontramos para dizer às nossas relações que não estamos satisfeitos e que precisamos de ajuda.

Rebelar-se contra tudo e todos pode ser uma declaração de urgência para o atendimento de nossas necessidades.

Sofrer humildemente, em meu coração, seria buscar a sabedoria daquele que viveu diversos contextos e que está pronto para construir paz e harmonia no coração, mesmo que isto signifique acomodar-se à dor de determinado contexto quando não houver alternativa.

Quem vive sempre em luta talvez esteja vivendo um quadro de negação de algum contexto que a vida lhe trouxe; talvez seja uma experiência de prepotência, quando se acredita que podemos submeter o universo às nossas expectativas de horizonte, mesmo que isto precise se dar de forma heroica.

Acho que algumas aflições que a vida entrega precisarão ser vividas e não poderão ser vencidas; pelo menos por um tempo; o tempo suficiente para amadurecermos e crescermos espiritualmente e construirmos formas diferentes de ver a vida. Formas que podem curar aflições sem que suas causas sejam eliminadas.

Outras aflições só existem porque ainda não organizamos esforços de confronto. Neste caso, será necessário vencê-las, ato que talvez seja tão natural que não constitua heroísmo.

Eu carrego um significado especial para a ideia de humildade. Penso que ela é a capacidade de reconhecer o próprio tamanho diante da vida, sem nos diminuirmos e sem nos sentirmos maiores do que somos, enquanto mantemos nossos sonhos, utopias e esperanças à nossa frente, mesmo que tenham a concretização viável em futuros presentes distantes.

Quando sou capaz de reconhecer minha individualidade e a importância dos papéis que desempenho nas relações, honrando-os, sou humilde.