Fechar-se na prisão da mágoa é decretar uma sentença contra você mesmo.
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muita paz
Ainda vivendo a reflexão anterior, fiquei tentando a dizer que se fechar em um contexto é aceitar uma definição pela necessidade de vivê-la. Seria o reconhecimento de que precisamos elaborar algo e a celebração de que poderemos finalmente elaborar o que precisamos para seguir em frente?
Seria uma sentença a favor de nós mesmos, embora contrária à expectativa que temos de vivermos constantemente um mundo de flores perfumadas.
O jornalista Caio Fernando Abreu tem um pensamento que talvez dialogue profundamente com o sujeito criador desta expectativa, que somos muitas vezes nós mesmos.
"O Problema é que você se apaixonou pelas minhas flores, não pelas minhas raízes. Então, quando chegou o outono, você não soube o que fazer."
Talvez não estejamos atentos às nossas próprias raízes!
Será que esquecemos que também somos realidades negadas, emoções e expectativas frustradas, sonhos abandonados e não realizados e expressões não reconhecidas?
Nos sentirmos afetados pela mágoa pode ser revelador sobre nossas raízes, sobre o que realmente importa, mas que nem sempre é colorido e perfumado para atrair a atenção do outro.
Fechar-se na mágoa é decretar a necessidade de reencontrarmos nossas próprias raízes, para elaborarmos como estamos nos relacionando com as pessoas que se encantaram com nossas flores e perfumes. Aceitar que talvez tenhamos atraído as pessoas erradas ou que ainda não fomos capazes de negociar o atendimento às nossas necessidades essenciais com o outro pode ser uma experiência dolorosa que se manifesta pela mágoa. Uma experiência de luto que carrega um sentido pessoal perdido, talvez estilhaçado pela ação do outro.
Permitir-se viver uma mágoa é sentença a favor do amadurecimento de nosso próprio psiquismo, que exige, por tempo indeterminado, a atenção às raízes, mas que nega a relação através das flores.
Roseiras atentas criaram espinhos. Seletivamente escolheram com quem se relacionar através das rosas. Quantas mágoas terão vivido até o amadurecimento dos espinhos?
Talvez o grande problema não seja fechar-se no quarto escuro da mágoa, mas insistir em permanecer lá por tempo indefinido, sem acolher o desafio de olhar para si, para as próprias raízes.
Mesmo assim, é saudável aceitar que precisamos viver a negação que nasce no luto da perda relacional. O grande problema transforma-se em grande desafio e o tempo habilita-se a ser o fio condutor do processo curativo que é necessário diante das dores da perda.
Penso que nenhuma sentença seja contrária a nós, embora algumas determinem momentos duros e difíceis de experimentação de nós mesmos na escuridão do solo de nossos corações.
Privados da luz matinal, a mágoa nos faz viver a lembrança do último pôr do sol pelo tempo necessário para reconhecermos o ciclo do astro-rei que sempre nasce para determinar o dia seguinte.
É preciso querer a renovação para podermos romper a escuridão e a acidez do solo escuro. Por vezes, precisaremos viver à exaustão a possibilidade da escuridão interior para querermos celebrar a vida relacional novamente, mas agora com mais maturidade e, talvez, alguns espinhos.
Ainda vivendo a reflexão anterior, fiquei tentando a dizer que se fechar em um contexto é aceitar uma definição pela necessidade de vivê-la. Seria o reconhecimento de que precisamos elaborar algo e a celebração de que poderemos finalmente elaborar o que precisamos para seguir em frente?
Seria uma sentença a favor de nós mesmos, embora contrária à expectativa que temos de vivermos constantemente um mundo de flores perfumadas.