🎼olha como a flor se acende🎼
🎼quando o dia amanhece🎼
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muita paz
O trecho da música de Juliana Diniz e Mauro Diniz, Alvorecer, me remeteu às ideias de apaixonamento e relação. Talvez porque usamos flores para falar sobre amor e carreguemos esta ideia da luz do amanhecer como o símbolo de alegria, de esperança e superação da adversidade.
Fico pensando, entretanto, sobre nosso hábito de estabelecer a beleza da vida e a felicidade através das flores e das cores.
Será que queremos beleza de curta duração, pouca variedade e muita previsibilidade?
Gosto de pensar que, na vida de uma roseira, por exemplo, há um pequeno período em que temos rosas, mas a vida se define para além do caule com espinhos e pétalas coloridas e perfumadas. A roseira segue sendo roseira mesmo quando não há rosas. A mangueira segue sendo mangueira, mesmo quando só há tronco, raízes, galhos e folhas!
Talvez nos animemos quando nossas expectativas são atendidas e nos sintamos empobrecidos, até mesmo desfavorecidos, quando o mundo não nos responde adequadamente ao que almejamos.
Atribuímos valor à flor porque temos a luz do dia que a revela aos nossos olhos. Se focarmos no perfume, talvez celebremos as flores mesmo à noite.
Se nos pensamos ao largo dos anos, talvez lamentemos as flores colhidas, que perderão sua plenitude, beleza e perfume, à medida que o tempo passa. Faltam raízes e conexões profundas com a natureza para prolongar a permanência da beleza em decomposição.
Recordo de uma fala do escritor Caio Fernando: "O problema é que você se apaixonou pelas minhas flores, não pelas minhas raízes. Então, quando chegou o outono, você não soube o que fazer."
Muitas árvores mostram resiliência e força ao abdicarem de flores, frutos e folhas para sobreviverem ao rigor do inverno. Mas talvez tenhamos dificuldades para ver a beleza em ambientes gelados com poucas cores.
O mistério da noite e a escuridão dos mares profundos guardam complexidades e belezas inimagináveis aos olhos que dependem da luz.
É possível existir belezas inacessíveis aos sentidos daqueles que buscam apenas a vida de forma rasa e frugal, livre de esforços de adaptação e fechados ao novo e ao impermanente.
Buscamos a surpresa do amanhecer que se impõe sobre a escuridão ou celebramos a vida que acontece em alternâncias de noites e dias trazendo oportunidades de vida complexa e contínua?
Celebramos o amanhecer e lamentamos o anoitecer? Ou somos capazes de celebrar a vida atravessada pela noite e pelo dia seguidas vezes?
Talvez possamos estabelecer olhares contemplativos mais profundos para viver a vida em todas as suas nuances e não apenas naquelas que correspondem às nossas expectativas.
Será que podemos esperar algo positivo da noite e da ausência das flores? Acredito que sim.
O trecho da música de Juliana Diniz e Mauro Diniz, Alvorecer, me remeteu às ideias de apaixonamento e relação. Talvez porque usamos flores para falar sobre amor e carreguemos esta ideia da luz do amanhecer como o símbolo de alegria, de esperança e superação da adversidade.
Fico pensando, entretanto, sobre nosso hábito de estabelecer a beleza da vida e a felicidade através das flores e das cores.
Será que queremos beleza de curta duração, pouca variedade e muita previsibilidade?