Não torne as coisas piores, pensando que dói mais do que você realmente está sentindo.
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muita paz
Começando pelo final da reflexão, penso que a vida é um grande laboratório relacional em que podemos experimentar os diversos significados da existência em busca de caminhos para estabelecermos a vida de maneira plena, mas não isenta de dores e de desafios.
Neste laboratório, em que não há receita de bolo, nenhuma experiência é inútil e é muito difícil reutilizarmos roteiros de superação, o que torna impossível definirmos métricas para estabelecer o que são dores normais. No meu entendimento, não é possível definir parâmetros aceitáveis para medir as dores.
Isto posto, penso que estas perguntas sejam valiosas para pensarmos sobre o nosso direito de usar a dor como ferramenta de significação da realidade e de amadurecimento pessoal.
Quem determina o tamanho da dor que estou sentindo?
O que faria com que eu atribua graus elevados de dor ao que me incomoda?
Por que uma mesma ocorrência tem pesos de dor diferentes entre as pessoas?
Tendemos a querer fugir das dores, não autorizamos o sofrimento e desejamos viver em estado estável de elevada fruição dos prazeres e confortos da vida. Acreditamos que a felicidade será atingida se não sentirmos dores.
Mas a dor surge neste jogo como elemento revelador da necessidade de atenção psíquica e de significação daquilo que nos atravessa.
Eu arriscaria dizer que viveremos nossas dores de maneira autentica e saudável, se nos autorizamos a sentir as nossas dores nas dimensões que julgamos necessárias e pelo tempo suficiente para haver cura. Talvez não exista um pensamento amplificador, mas pensamentos reveladores da nossa necessidade de elaboração; pensamentos que nos permitem acessar a dor na dimensão de que precisamos para gerar significado existencial.
Precisamos de coragem para trazer nosso foco psíquico para aquilo que nos incomoda. Vivenciamos desconforto, nos sentimos envergonhados e inadequados, nossa razão não consegue significar as ocorrências dolorosas e nosso corpo exige esforço extra.
Parece que a dor aumenta no momento em que buscamos a cura, o que provoca a vontade de darmos um passo para trás que desarticule o palco da consciência que armamos para crescermos como sujeitos singulares, livres, autônomos e autênticos. Nos sentimos vulneráveis e fragilizados enquanto o ego nos aconselha a pararmos de pensar no assunto.
Abraçar alguém em estado de profunda dor é um esforço de empatia e solidariedade que pode ajudar no processo de elaboração das dores, reflexos de perdas, traumas e frustrações. Embora não sejamos capazes de compreender a dor do outro e nem o seu tamanho, o apoio emocional e a escuta são vitais.
Defendo a ideia de que devemos autorizar o outro a viver a sua própria dor. É claro que o outro não precisa realmente desta autorização, mas ela reduz o desconforto de quem sofre e abre caminhos coletivos de suporte ao processo de cura através da ressignificação.
Acredito que o oposto piora as coisas. Evitar acessar as dores, negar o tamanho real delas, impor a razão sobre o sentimento e não nos autorizarmos a sentir de maneira autêntica, escreve uma estrada de sofrimentos e amarguras que se acumulam ao largo dos anos, o que facilita adoecimentos psíquicos podendo nos levar a contextos graves de desequilíbrio bio-psíquico-sócio-espiritual.
Não existe uma escala para definir a intensidade justa de uma dor, assim como não há um prazo estabelecido para a superação das dores, mas há uma certeza neste processo curativo de vivência e superação das perdas que nos causam dores:
O processo de superação é individual, embora seja facilitado quando o sujeito é abraçado sem preconceitos ou julgamentos. Sentir-se apoiado ajuda a elaboração da perda e esvazia a necessidade da dor como sinalizador de urgência de elaboração.
Começando pelo final da reflexão, penso que a vida é um grande laboratório relacional em que podemos experimentar os diversos significados da existência em busca de caminhos para estabelecermos a vida de maneira plena, mas não isenta de dores e de desafios.
Neste laboratório, em que não há receita de bolo, nenhuma experiência é inútil e é muito difícil reutilizarmos roteiros de superação, o que torna impossível definirmos métricas para estabelecer o que são dores normais. No meu entendimento, não é possível definir parâmetros aceitáveis para medir as dores.