A tristeza é como as àguas de um rio.
Precisamos deixar as àguas passarem.
Não coloquemos diques para represar as àguas da tristeza, pois elas poderão transbordar e imundar nossa alma de uma melancolia profunda.
+185-181
muita paz
O uso de figuras de linguagem como as metáforas enriquecem nossa capacidade de apreensão das realidades à nossa volta, mas exige elevado nível de abstração e a existência de símbolos culturais e significados em comum.
Parei para pensar sobre as águas fluindo no leito do rio, sobre o ato de represar águas, nos alagamentos...
Os alagamentos provocados por represas redesenham as margens do rio e trazem certo desconforto. Não há dúvidas sobre a necessidade de nos movimentarmos de alguma forma para acolher o novo rio criado.
Penso, entretanto, no enorme potencial de mudança que estes redesenhos nos trazem. A tristeza é uma emoção potente, que nasce da insatisfação diante da frustração de nossas expectativas e que declara aberta e inequivocamente que não estamos satisfeitos com algo.
Resgatando a metáfora da hidrelétrica, toda a água represada cria inimagináveis potenciais de geração de energia elétrica capaz de suprir vida, refrigerar ambientes, iluminar noites, facilitar deslocamentos, promover comunicação.
Talvez o que nos importe não seja deixar as águas passarem, mas usarmos o potencial transformador que elas carreiam para realizarmos nossas vidas buscando a ressignificação de traumas e a transformação de realidades.
Rio que corre perenemente, demarca o ambiente com a natureza de suas águas.
Talvez seja preciso saber se queremos regar nossa alma com as águas da tristeza de maneira permanente, ou usar o potencial destas águas para realizar algo importante no terreno de nossas almas.
Ao criarmos um dique e promovermos o alagamento de certos terrenos, favorecemos o nascimento de uma represa com potenciais hídricos e energéticos valiosos.
Perdemos regiões para as águas, o que é lamentável, mas articulamos capacidade de crescimento.
Arrisco dizer que nem toda inundação causa melancolia. Indo mais além, a melancolia instalada pode ser estágio transitório de felicidades e prosperidades futuros.
Estou certo de que os terrenos porosos de nossa alma são capazes de assimilar doses elevadas de tristeza que vertem eles sob a forma de água abundante.
Assimilando estas tristezas, aprendemos sobre nós mesmos, sobre nossas expectativas, sobre nossas crenças e escalas de valores.
Mais atentos ao solo que somos, conhecedores de nós mesmos, acolhemos o sol que nos invade sem pedir permissão e as sementes trazidas pelo vento incansável. Fazendo-os dialogar com a água abundante no solo promovemos o nascer de nova vida colorida e perfumada que alimenta e sustenta animais e a nós mesmos.
Com o tempo, florestas inteiras nascerão nas áreas antes alagadas, dando significado sagrado e valioso a cada tristeza sentida, mas é necessária muita coragem para bancar os diques que sentimos a necessidade de criar em determinado momento de nossas vidas para conter o fluxo constante das águas da tristeza.
O uso de figuras de linguagem como as metáforas enriquecem nossa capacidade de apreensão das realidades à nossa volta, mas exige elevado nível de abstração e a existência de símbolos culturais e significados em comum.
Parei para pensar sobre as águas fluindo no leito do rio, sobre o ato de represar águas, nos alagamentos...
Os alagamentos provocados por represas redesenham as margens do rio e trazem certo desconforto. Não há dúvidas sobre a necessidade de nos movimentarmos de alguma forma para acolher o novo rio criado.