277/2023 - Hierarquia no futuro

Ser maior. Esta é uma proposição interessante para refletirmos. Talvez esta busca esteja alicerçada pelo nosso ego, a parte insegura de nós que procura validação externa, aceitação e reconhecimento. Talvez ainda tenhamos dificuldade em nos reconhecermos grandes sem que isto signifique validação externa.

Maiores do que nós mesmos no passado em alguns aspectos, embora também possamos reconhecer muitos outros aspectos que podem ser melhorados, frequentemente seguimos esperando que nosso valor seja reconhecido e até mesmo nos impomos, violentamente, sobre a sociedade, exigindo este reconhecimento.

Acostumados aos padrões do macho alfa na natureza animal, talvez julguemos que cabe ao mais forte as melhores oportunidades e recursos, embora esqueçamos a pesada responsabilidade colocada sobre este membro da comunidade. Ao macho alfa cabe a responsabilidade de liderança, de defesa e de organização. 

Através da consciência de nós mesmos, do pensamento contínuo, da capacidade de raciocinar e também da habilidade de criar hipóteses; entre outras habilidades do ser humano; hoje somos capazes de avaliar nossas organizações sociais e de questionarmos os critérios que estabelecem autoridade e a hierarquia. Inicialmente usamos a força bruta, mas migramos para a inteligência, para o controle de meios de produção, para o controle de conhecimento e, mais recentemente, para o controle da informação.

Seguimos impondo à força nossas crenças, valores e verdades; mesmo quando coletivamente não são percebidas como características adequadas para a criação e manutenção de comunidades justas, plenas de bem-estar e capazes de gerar prosperidade e felicidade a todos os seus integrantes.

Há, entretanto, uma quantidade crescente e considerável de seres humanos que reconhece a pluralidade de habilidades e a impossibilidade de que apenas um pequeno grupo de seres as detenha e as use para comandar todo o coletivo. Questiona-se o modelo hierárquico, deseja-se mais participação coletiva e distribuição de recursos e de responsabilidades.

Sinto que há um jogo intenso em curso na humanidade. De um lado aqueles que desejam se impor à força, segundo algum modelo de crenças e valores; do outro lado estariam aqueles que desejam responsabilidades distribuídas, reconhecimento de igualdade e liberdade para escrever suas próprias histórias com respeito, responsabilidade e autonomia em uma sociedade que integra ao invés de separar e confrontar.

Não sei se "ser maior" é uma ilusão. Talvez seja um entendimento parcial da realidade; entendimento que considera convenientemente apenas alguns aspectos humanos para estabelecer hierarquias e controles. A certeza que carrego é a de que "os maiores" são, na realidade, inseguros quanto à própria identidade e esperam que os coletivos os reconheçam e lhes deem o direito de existir.

Que possamos abraçar nossas habilidades esplêndidas assim como aquelas ainda precárias. Talvez assim consigamos nos perceber como sujeitos em uma jornada de crescimento contínuo e superação de desafios, da mesma forma que todos os outros integrantes.

Talvez a nova sociedade tenha sua hierarquia baseada na capacidade de nos enxergarmos e ao outro de maneira igualitária. Neste contexto, os líderes reconhecidos pelo coletivo serão aqueles que se sentem seguros com suas fragilidades e incompletudes; aqueles que não necessitam de validação externa para sentirem-se bem e que se preocupam com o bem-estar coletivo.

Ser maior. Esta é uma proposição interessante para refletirmos. Talvez esta busca esteja alicerçada pelo nosso ego, a parte insegura de nós que procura validação externa, aceitação e reconhecimento. Talvez ainda tenhamos dificuldade em nos reconhecermos grandes sem que isto signifique validação externa.