118/2023 - Vida Abundante como solução

Penso que, ao reconhecermos que apresentamos diferentes níveis de maturidade e que o amadurecimento é um processo de aprendizado ao longo do tempo, somos naturalmente levados pela razão a refletir sobre a importância de posturas solidárias no desenrolar deste processo individual de amadurecimento do outro, assim como na importância dos apoios que recebemos em nosso próprio processo de amadurecimento.

Entretanto, penso que muitas vezes é difícil assumirmos nossas lacunas de desenvolvimento e acabamos até nos sentindo constrangidos em admitir que há contextos em que carecemos de apoio. 

Talvez em um mundo ideal nos sentíssemos seguros para assumir nossa vulnerabilidade e assim nos abriríamos para possibilidades de apoio e colaboração que poderiam ser decisivos em nossos aprendizados e superações de obstáculos. 

Mas hoje ainda reverberamos ecos de uma luta atroz pela sobrevivência em que ser fraco e pouco capaz de adaptar-se eram sinais de fraqueza que nos colocava em posições desfavoráveis.

Quando não nos sentimos seguros, acabamos tendo dificuldade em admitir nossa vulnerabilidade. Queremos celebrar acertos e ocultar erros...

Quando vemos o outro vulnerável tendemos a querer levar vantagem sobre ele. Vendo possibilidades de ganho, deixamos de lado as opções de ação solidárias e partimos para as ações exploratórias...

Talvez não sejam posturas absolutas, mas me parecem atitudes muito comuns na atualidade.

De modo geral, é importante evitarmos expor nossas fraquezas e explorar as fraquezas alheias. Esta é, inclusive, a regra geral para os mercados onde produtos e serviços são ofertados e contratados!

Basta que uma enchente provoque a contaminação das fontes de água de uma região, levando à escassez de água própria para consumo humano, para vermos os preços da água subirem rapidamente para valores estratosféricos e impraticáveis. Aventureiros surgem trazendo água de outras regiões, preços aumentam e seres humanos sofrem. Mesmo sabendo que nestas horas há muita dor e sofrimento pela incapacidade em suprir-se de algo tão básico, aceitamos as "leis de mercado"...

Chegamos a criar necessidades artificiais e produzir escassez para lucrar em grandes escalas. Aceitamos esta atitude como prática comercial e de marketing com a mesma naturalidade com que respiramos oxigênio.

Sentimos a falta de solidariedade, nos sentimos abandonados e carecemos de empatia em vários contextos da vida. Entretanto, parece mais fácil negarmos as carências e assumirmos posturas defensivas e/ou agressivas para tomarmos o que nos faz falta diante das potências exploradoras que se apresentam para explorar nossa fragilidade.

No íntimo, quando estamos carentes, sabemos que precisamos de solidariedade, de empatia, de compreensão, de fraternidade e de perdão; práticas que manifestam o amor nas relações. Mas admitir isso é, no momento, assumir-se fraco e ser explorado.

Como vencer este abismo entre o reconhecimento íntimo da necessidade do amor em movimento e a prática do amor em movimento?

Talvez esta seja uma pergunta importante!

Acredito que reduzir a importância que damos à possibilidade de finitude seja um caminho. Se somos imortais e nos percebemos como tais, a escassez assume papel menor em nossas vidas.

Pensar em uma coordenação superior à nossa vontade talvez ajude. Esta coordenação, articulando a vida sob uma lógica de abundância e de perfeição, traria justiça e misericórdia conjugados e nos daria segurança.

Acolher o uso da lógica e da razão para equilibrar as respostas emocionais também me parece uma estratégia poderosa. Neste contexto podem surgir leis, normativas e padrões que visem a imposição coletiva de padrões que busquem prosperidade e equilíbrio a pesar das tendências que carregamos.

É importante construirmos nossas utopias baseadas em um sentimento de justiça e abundância. Assim investiremos na nossa prosperidade e na da sociedade. Talvez assim sejamos capazes de criar ambientes seguros em que consigamos admitir nossas fragilidades e apoiar o outro na superação de suas próprias fragilidades.

Penso que, ao reconhecermos que apresentamos diferentes níveis de maturidade e que o amadurecimento é um processo de aprendizado ao longo do tempo, somos naturalmente levados pela razão a refletir sobre a importância de posturas solidárias no desenrolar deste processo individual de amadurecimento do outro, assim como na importância dos apoios que recebemos em nosso próprio processo de amadurecimento.